domingo, 19 de fevereiro de 2012

Casamento - E depois do "felizes para sempre"...


Era uma vez um homem e uma mulher... Seus caminhos se cruzaram e apaixonaram-se perdidamente um pelo outro. Amorzinho prá cá, amorzinho prá lá; transa gostosa todos os dias, uma loucura... Final feliz: casaram-se. Mas em que consiste este final feliz, senão, em um processo de construção da relação?

Sabemos que os preparativos para os festejos de casamento, lua de mel e organização da nova moradia envolvem noivos e familiares em uma grande e intensa maratona. No entanto, nem sempre lembramos que todo esse frisson acaba ofuscando outro aspecto absolutamente fundamental: o do preparo para a nova etapa de vida a dois que se inicia.

O casamento, como um ritual de passagem, marca uma nova etapa de vida, na qual deixam de ser apenas um homem e uma mulher para, juntos, formarem um casal.

Se nos tempos de namoro, os dois tiveram que dar conta de algumas tarefas como seduzir, passear, namorar, mostrar o seu lado mais atraente para encantar um ao outro, agora como futuro casal, além da continuação e renovação dessas tarefas, eles têm outras tantas a realizar.

Mas, o que vem a ser isso, casamento..., com tarefas a cumprir? Afinal, a sociedade transmite a visão romanceada de uma mágica e feliz mudança. No entanto, depois da festa e da lua de mel vem acontinuação da história de cada um, com o início da construção da nova história, a dois, que quase ninguém conta.

Desta forma, é precisoarregaçar as mangaspara construir a nova relação de casal, de preferência, concomitantemente aos preparativos para os festejos. Mas, na realidade, isso diz respeito apenas aos noivos e ninguém poderá fazer por eles.

O primeiro passo é despertar para a percepção de que cada um traz consigo uma bagagem de vida, acrescida de uma história herdada da família de origem e contextualizada em sua cultura. E que, a partir daí, não poderão mais lidar com suas questões, unicamente em bases individuais como antes. Assim, precisam abrir um espaço de negociação para as novas situações que forem surgindo em seu cotidiano.

Já que falamos em tarefas, vamos a elas. É importante lembrar que, quanto maior o grau de criatividade, humor, respeito e flexibilidade, maiores serão as condições para o sucesso em sua realização.

Assumir o novo "status" que a união proporciona, é preciso. Isto perante a família, amigos e sociedade. A responsabilidade e a hierarquia agora mudam suas bases. Não é cabível dever obediência ao pai e à mãe, mas sim respeito. E tudo o que se referir a esta nova etapa de vida deve ser decidido entre o casal.

Lealdade e cumplicidade também mudam de direção, transferindo-se da família de origem, para o(a) companheiro(a). O novo casal precisa de cumplicidade, para não criticar os pontos fracos, um do outro, perante suas famílias. Por exemplo, não é recomendável o comentário: "mamãe, não dê roupa de presente por que ele(a) está meio gordinho(a)"... Na primeira oportunidade, alguém vai perguntar: "é hoje que o(a) gorducho(a) vem jantar aqui em casa?" É necessário firmeza para se defender um ao outro, quando surgirem comentários que desqualificam, e muitas vezes até ofendem, como os apelidos esquisitos e caricaturais. As famílias, às vezes, reagem dessa maneira. Afinal de contas, ela está "perdendo" um de seus membros queridos, e este sentimento de perda deixa um espaço vazio que incomoda. Dependendo do grau de dificuldade encontrado para esta etapa de despedida da família de origem, maior ou menor será a aceitação de quem está chegando. De qualquer maneira, é sempre necessário muita habilidade para que um insira o outro na intimidade de suas respectivas famílias de origem, levando a um verdadeiro acolhimento.

E quanto ao itemtradições e rituais familiares? Este também deve ser discutido e negociado com interesse, respeito e flexibilidade.

Na situação de trabalho, surge uma mudança que apesar de sutil, é fundamental: passam os dois a serem os provedores da vida do casal. Nesta hora, todo cuidado é pouco. Se ainda precisarem da ajuda dos pais, que possam utilizá-la apenas provisoriamente e por tempo previamente delimitado; do contrário, continuarão trazendo preocupação para os pais, na posição de filhos que não cresceram e assumiram suas responsabilidades.

O facebook, a rede de amigos, o chopinho, as festinhas, bem como outros deveres e prazeres, com certeza, farão parte do pacote das negociações.

E as contas, quem vai pagar ? Com o dinheiro de quem ? Como irão administrar as listas de compras, o supermercado, a limpeza da casa, as refeições e tantas outras, das quais não se tem ideia quando ainda não se teve a responsabilidade de prover. Tudo isto é questão restrita apenas ao casal e as fronteiras devem ser demarcadas, para não receberem influências externas que os dividam ou oslevem a situações de disputa e confronto. Os dois têm esta competência e podem perfeitamente aprender a administrar, ao seu modo, esta questão. Assim, estarão evitando somar descontentamentos que irão, futuramente, para "debaixo do tapete".

O relacionamento não ficou esquecido. Também envolve tarefas, a saber: quando e como irão fazer as refeições, dormir, conversar, fazer sexo, brigar, trabalhar e relaxar, sair para se divertir, visitar e receber as famílias e os amigos.

O que irá acontecer quando começarem a surgir diferenças? Se um fica bem feliz, em acordar com a luz do dia entrando pela janela, e o outro tem fotofobia e "odeeeia" a claridade? O jeito é relaxar e encontrar humor e criatividade para chegarem a uma solução benéfica para ambos. Quem sabe, o jeito pode ser dormir deóculos escuros...

E o sexo gostosinho, que rolava durante o namoro? Fica perdido no início da história? É claro que não! O que muda é o contexto. E, de acordo com o grau de importância que o casal dá para a sexualidade, haverá maior ou menor investimento na criação de novas oportunidades para interagir de forma íntima e plena. Da mesma maneira irão abrir mais, ou menos, espaço na relação, para permitir a expressão de sentimentos com segurança e confiança mútuas. Tudo isso irá, certamente, contribuir para o aprofundamento da relação.

Enfim, é infinita a lista de tarefas da etapa do casamento, como também são infinitas as tarefas que temos nas várias fases de nossas vidas. Afinal de contas, a vida acontece em ciclos de transição. Tomar consciência e nos responsabilizarmos pelas tarefas de cada um desses ciclos, nos ajuda a integrá-los formando nossa linha de vida. Quando não o fazemos, corremos o risco de paralisar em tempos de mudança. Quem não conhece, pelo menos um casal, que não tenha conseguido bancar a vida a dois e voltou rapidamente para a casa dos pais, para o mesmo papel de filho? É bem provável que não tenham conseguido dar conta do novo papel de companheiro(a) e cônjuge.

Assim, a continuação da "história que quase ninguém conta" termina por aqui. Sabem por quê ? Porque depois de realizadas todas estas tarefas, o nosso novo casal resolve ter filhos... Aguardem, portanto, a próxima históriasobre o depois da chegada do primeiro filho e da inauguração da nova família, que também quase ninguém conta.

Ana Silvia Teixeira & Vera Risi

Ana Silvia B. Teixeira e Vera Risi são terapeutas de família e de casal e prestam consultoria

Em pré-nupcial relacional.

http://www.vinhoesexualidade.com.br/Sexualidade/Artigos/Artigo.aspx?i=451



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