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De repente, amanhece e sua linda filha de 20 anos está com o
namorado em casa, sem pedir licença. Ele, uma figura desconhecida, estranha,
rebelde e, talvez, um piercing que, como a cena típica de cinema ou de
comercial de margarina, surpreende a todos em um assalto à geladeira. Logo,
além do rapaz, invade sua vida um turbilhão de pensamentos. "Na minha
época, não era assim", pensam todos os pais. E quem, sem querer, acaba
por assistir a cenas na cozinha, começa a se questionar sobre sua própria
vida amorosa e sexual.
Abrir a própria casa para o desabrochar da sexualidade dos filhos
não funciona apenas como um início de reflexão sobre a responsabilidade e a
educação deles, que muitas vezes habitam a casa dos pais como se fossem os
únicos moradores do local. Mais do que invasão de privacidade, os namorados
dos filhos também provocam reflexão sobre as experiências sexuais passadas
e futuras dos pais, estejam estes juntos ou divorciados. Afinal, mesmo os
casais mais bem resolvidos não viveram a juventude em uma época de unânima
liberdade sexual.
Foi por conta da tão complicada a relação entre pais e namorados dos
filhos que a jornalista e mãe de duas ex-adolescentes, Lucia Rito, escreveu
"Como Lidar com os Namorados dos Filhos", da Editora Record. No
livro, ela explica algumas das reações mais íntimas deles ao se depararem
com a libido explosiva dos filhos dentro de casa. "Eles se sentem compelidos
a modificar seu comportamento e a forma de lidar com a própria sexualidade.
Alguns resolvem cuidar do visual, fazem uma lipo, sucumbem à depressão, ou
simplesmente desabafam mais com os amigos. Outros, quem sabe, até se abrem
para uma nova paixão?", resume.
Lucia é uma das que lamenta não ter tido a mesma sorte dos filhos.
"Tinha horário para voltar para casa e só podia namorar acompanhada de
minhas irmãs. Em compensação, permito a elas o que gostaria de ter
tido", argumenta. Ela confessa que sofreu com a idéia de ter vivido
menos liberdade, mas, hoje, aos 53 anos, se sente muito mais plena do que a
geração de seus pais com a mesma idade. "Os avós de hoje, aos
cinqüenta e poucos, já eram senhores recatados", acrescenta.
Por outro lado, a psicanalista e professora da USP, Maria Alves de
Toledo Bruns, teme essa cobrança por uma "sexualidade bem
resolvida", feita pela mídia e pela sociedade, e que se torna ainda
mais explícita quando os filhos começam a trazer os namorados para casa. Em
reação a essa exigência, tanto filhos quanto os pais parecem precisar se
mostrar ativos sexualmente. O que pode levar até mesmo uma competição e, em
excesso, a uma baixa autoestima dos que já não exibem o mesmo pique dos
jovens.
É claro que não são só os pais que sofrem com as transformações e
que precisam reforçar a auto-estima, as amizades e o companheirismo do
parceiro. Os filhos, muitas vezes, carecem de maturidade para assumir as
conseqüências das novas experiências. "Em muitos adolescentes, há uma
disparidade entre o corpo desenvolvido e o pensamento ainda pouco
amadurecido sobre a sexualidade", explica Maria Alves. Os filhos
precisam dos pais para dialogar, negociar um lugar para namorar, para
esclarecer dúvidas sobre iniciação sexual e sobre especialistas que possam
informá-los melhor sobre sua sexualidade. E para que os pais consigam se
mostrar disponíveis e abertos para o diálogo com os filhos, é preciso
encarar as reações em si mesmo trazidas junto com as "novidades
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