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Por Marilia Castello Branco*
O uso de bebidas alcoólicas faz parte da nossa cultura e não é,
necessariamente, um problema. Cerca de metade da população brasileira
consome bebidas com alguma regularidade, enquanto que a taxa de alcoolismo
está por volta de 10% ou menos entre os homens, sendo menor entre as
mulheres. Entre as pessoas acima de 50 anos, um beber moderado, equivalente
a uma taça de vinho nas refeições ou o chopinho esporádico com os amigos,
sem excessos ou embriaguez, está relacionado a uma vida social ativa e
satisfatória, melhora do humor, redução do estresse e pode estar associado
a uma menor taxa de doenças cardíacas, osteoporose, diabetes e perdas
cognitivas.
Por outro lado, nesta faixa etária podem surgir diversos problemas de saúde
relacionados ao uso abusivo. É comum que, durante uma internação
hospitalar, pessoas que vem bebendo diariamente há muitos anos, ainda que
não considerem seu consumo problemático, apresentem sintomas de abstinência
ao álcool, pois o alcoolismo é uma doença que se instala muito lentamente.
Com a idade podem surgir sintomas de doenças relacionadas ao uso crônico e
prolongado de bebidas como, por exemplo, doenças do fígado, pâncreas,
cardíacas, depressão e outros transtornos psiquiátricos. Esses são sinais
de que é preciso buscar tratamento não apenas para a consequência, mas para
a causa, o abuso de bebidas.
Em geral, o consumo de álcool tende a diminuir com a idade, mas algumas
pessoas podem começar a beber ou aumentar a quantidade e frequência do
consumo após os 50 anos, depois uma vida de abstinência ou moderação. Isto
pode representar uma atitude positiva, como a busca por mais atividade
social, mas é preciso estar atento: as mudanças pelas quais o corpo passa
com a maturidade, com a diminuição da massa muscular e aumento da proporção
de gordura corporal, afetam a capacidade de metabolizar o álcool. O abuso
de álcool, principalmente quando associado a outras medicações
frequentemente prescritas aos idosos, pode aumentar o risco de quedas e
fraturas. No caso das mulheres esses riscos são potencializados pelas
mudanças que ocorrem com a menopausa.
Entre os fatores que podem levar ao abuso de bebidas estão a depressão e
ansiedade associadas ao medo do envelhecimento e perdas decorrentes da
idade como viuvez, morte de amigos e parentes, aposentadoria, solidão,
afastamento dos filhos, diminuição da vida social e sexual. Esses fatores
não podem ser considerados "normais", mas identificados e
tratados o quanto antes. Uma vida plena e de boa qualidade é a melhor
prevenção para o alcoolismo e doenças associadas.
Outra questão relevante na terceira idade é o abuso de drogas de prescrição
como analgésicos, ansiolíticos e remédios para dormir. Embora pareçam
inocentes, até por terem prescrição do médico, têm alto potencial de abuso
e consequente dependência. Fatores como dor crônica, depressão e ansiedade
também podem estar por trás da procura por esses medicamentos e a prevenção
do uso abusivo e dependência precisa estar focada para a identificação e
tratamento das suas causas.
Embora o uso de substâncias ilícitas como maconha e cocaína ainda esteja
associado, principalmente, aos mais jovens, à medida que as gerações que
viveram a juventude nos anos 60 e 70, em que teve início um
"boom" no uso dessas drogas, vão envelhecendo, torna-se
necessário uma atenção diferenciada para essa questão. Ainda há
pouquíssimos estudos sobre o tema, dificultados também pela ilegalidade
dessas drogas que leva as pessoas a esconderem seu uso e evitarem falar
sobre o assunto. Se alguns propõem o uso da maconha medicinal como
alternativa de tratamento para algumas doenças relacionadas à idade, há
suspeita que seu abuso possa contribuir para o isolamento do idoso e estar
relacionado a um maior risco de quedas. No caso da cocaína, está comprovado
que seu uso frequente acelera o envelhecimento cerebral e pode estar relacionado
a um maior risco de demência, motivo suficiente para evitar o seu uso em
qualquer idade.
Assim, para todos os casos vale a premissa de que o mais importante num
processo de envelhecimento saudável é a busca por uma vida plena, rica em
estímulos e experiências, com boa alimentação, atividade física e convívio
social e o abuso de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, não tem como
fazer parte desse estilo de vida.
*Dra. Marilia Castello Branco
(Psicóloga e escritora. Psicóloga dos setores de adolescentes e
mulheres do Proad - Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
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