quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O mal do apego Aprendendo a conviver com os rompimentos e as frustrações





"Meu problema é com relacionamentos. Amo demais a outra pessoa e, geralmente, quando me envolvo, isso é muito ruim, porque não sei ouvir um ‘não’. Meto os pés pelas mãos e acabo estragando tudo.
Quando terminam comigo meu mundo acaba e eu fico arrasada, perco o ânimo de viver e sofro muito. Sempre dou certeza para o outro de que estou apaixonada e, quando meus relacionamentos chegam ao fim é horrível. Meu sofrimento é muito prolongado e isso acaba me atrapalhando em outros campos da minha vida.
Preciso de um conselho, de ajuda para aprender a controlar minhas emoções no fim de um relacionamento. No momento, estou passando por um rompimento que está me consumindo a vontade de viver. O desespero bate, a angústia é constante e o medo de não ter mais volta é insuportável. Oriente-me, por favor."
Você não sofre de amor, mas de apego excessivo. Meu conselho é: faça psicoterapia, porque esse padrão de relacionamento é típico de uma pessoa que já está na idade adulta, mas ainda não emadureceu emocionalmente.

Quando você se envolve com alguém, você se desloca do seu eixo e passa a viver ‘colada’ na outra pessoa, como se ela fosse o centro da sua vida. Isso não é amor, mas obsessão. E ninguém será capaz de lhe dar o amor e a atenção que você deseja, a não ser que você se trate e supere essa sua dificuldade, qual seja: a de compartilhar uma verdadeira e real intimidade.

É interessante, essa síndrome de Horror à Intimidade. A pessoa quer, quer, quer encontrar alguém e, quando encontra, não consegue sustentar a relação. Começa a tomar atitudes que sufocam a outra pessoa que, então, dá um jeito de se livrar.

Muita gente sofre desse medo terrível de sentir-se profundamente íntimo de alguém. Ele é tão grande, mas tão grande, que deixa de ser medo e passa a ser um verdadeiro pavor. E, então, faz que faz, até que chega um momento em que a outra pessoa dá um jeito de sumir.

Aqueles que têm essa síndrome de terror à intimidade agem mais ou menos assim: “Antes de vir a me se sentir sufocada por tal pessoa, vou tratar é de sufoca-la e, com isso, vou dar um jeito para que ela é que me abandone!” Bem, nada disso é muito consciente. Uma boa psicoterapia pode ajudar a destrinchar essa problemática toda e fortalecer o seu ego para que você, aos poucos, habitue-se a ser querida, sem sentir tanto pavor: sabendo apreciar-se e às demais pessoas como elas são e, não como você gostaria que fossem.

Essa síndrome é muito frequente em pessoas que, quando crianças, foram super mimadas ou, pelo contrário, que foram negligenciadas emocionalmente e, assim, cresceram sem o apoio e a presença firme e carinhosa de seus pais. Ou pelo menos de algum deles. Em geral há uma combinação do tipo: um dos pais é muito controlador e invasivo (senão violento), o outro é omisso (senão covarde). De qualquer modo, ser super mimado ou negligenciado resulta em má aprendizagem da intimidade. Na idade adulta isso vai se manifestar em sérias dificuldades em se relacionar, especialmente quando começam a sentir-se conectados a mais alguém.
Há tanto o desespero de vir a ser abandonado, como o terror de vir a ser sufocado, de desaparecer e deixar de ser si mesmo, quando fortemente ligados a mais alguém. Bem imagino, então, seu sofrimento. Mas a grande notícia é que, trabalhando seu crescimento e amadurecimento emocional, um dia você estará apta a encontrar alguém com quem se comprometer e ao lado poder viver uma linda estória de amor.

Como é que uma psicoterapia fornece isso: porque dedicar-se a ajudar alguém a sair desse breu, dessa escuridão e estado de solidão e desamparo emocional, não deixa de ser um ato de amor. Há, sim, um envolvimento amoroso e muito cuidadoso entre bons psicoterapeutas e seus pacientes. Há formação de laços de confiança e de gratidão entre eles.

O que não há é abuso de parte a parte. Mesmo amando seus pacientes, um psicoterapeuta não se deixa ‘prender’ por essa pessoa, não começa a fazer ou pensar por ela, enfim, ensina-a a conquistar sua autonomia, sua autoconfiança e a fortalecer sua capacidade de suportar frustrações. Ou seja, apoia seus clientes em direção ao crescimento e desenvolvimento pessoal, com responsabilidade e capacidade de fazer melhores escolhas, que os enriqueça e enalteça. E para que descubram que, ser só é condição existencial e, não problema.

Da mesma forma, aprende-se a suportar limites e a precisar desses limites que nos protegem. Liberdade, solidão, escolhas, autonomia, amor e morte são temas básicos de qualquer pesquisa profunda que empreendamos em busca de ser quem somos. Com apoio e coragem chegamos lá. E onde é lá? É onde estamos e aquilo que, verdadeira e autenticamente somos. Boa sorte. 


*Ana Fraiman é psicóloga formada em Psicologia Social, especialista nas áreas clínica e social, com mestrado pela USP e Doutora em Ciências Sociais pela PUC-SP. Possui vários livros publicados, é articulista e Diretora da APFraiman Consultoria, empresa pioneira em Programas de Preparação para a Aposentadoria e Pós-carreira.

Ana Fraiman escreve semanalmente no Maisde50. Para enviar sua dúvida, envie um email para 
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