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Armário bagunçado, louça suja na
pia, tolha molhada em cima da cama. Pequenos hábitos da rotina podem ser
muito irritantes para o casal quando não há tolerância e compreensão. É
preciso haver adaptação aos hábitos do outro, capacidade que tende a ser
cada vez menor conforme os anos passam. Para evitar brigas, e até
separações, é preciso que haja muita conversa e entendimento porque, afinal,
ninguém é igual. Entenda quais são os maiores vilões do relacionamento e
como impedir que eles infernizem a vida a dois.
São coisas simples, pequenas, até irrelevantes – se você considerar que
acontecem apenas de vez em quando. No entanto, quando repetidas
continuamente, geram grande desconforto. É o que diz a comerciante Rosilene
Silva, de 51 anos: "fui casada durante 17 anos e já estou divorciada
há 11. Incomodava muito em mim hábitos que meu parceiro tinha como não
abaixar a tampa da privada após usar o banheiro, escovar os dentes com a
porta do banheiro aberta, sem se incomodar que a parceira veja a espuma ao
redor da boca e os cuspes. Mas o que eu mais odiava mesmo é quando ele
atrapalhava meu sono, ligando a TV ou fazendo barulho. Meu marido, na maioria
das vezes, não compreendia isso. Hoje, eu não suporto ver TV no
quarto".
Conviver não é fácil. A convivência envolve hábitos, costumes, gostos e
rotinas diferentes. Segundo a psiquiatra, chefe do setor de Psicoterapia da
Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro, Vera Lemgruber, "a
adaptação geralmente tem que ocorrer logo no início do casamento. Se a
pessoa tem mais de 50 anos, ela deve ter tido tempo para adaptar-se às
rotinas. A pessoa madura é capaz de se reinventar, dar um novo significado
ao seu passado. Mesmo assim, no cotidiano, ela quer cada vez mais conforto,
ela precisa de certas coisas. Quem está entrando em um novo relacionamento
agora vai sentir grande dificuldade de adaptar-se a uma nova rotina. Mudar
de hábitos é complicado, especialmente nessa idade".
Contudo, é possível, sim, encontrar um ponto de equilíbrio e lidar bem com
as dificuldades da convivência. Levy Delfino, 75 anos, está casado há 57
com a mesma mulher e o que mais lhe incomoda já nem são os hábitos da
rotina. "Já passamos momentos difíceis para criar e educar cinco
filhos, mas não há como odiar nada. Às vezes fico chateado quando ela quer
controlar as cervejas, as quais não passam de duas ou três nos finais de
semana. Chateia também quando quero levá-la em alguma festa, mas ela não
quer ir e eu também deixo de sair. Ela toma decisões apressadas e quer
resolver tudo rapidinho, e eu já sou mais calmo e ponderado antes de
qualquer decisão. Mas o motivo que mais me aborrece é quando ela lembra o
passado, principalmente os mais trabalhosos, e fica triste. Tento explicar
que devemos viver somente no agora, no presente, mas ela não me ouve até
esquecer o assunto", conta o aposentado.
Quando flui, o casamento pode ser muito bom. No entanto, mesmo existindo o
amor entre o casal, nem sempre é fácil adequar os hábitos e conviver sob o
mesmo teto. Nesse caso, Vera argumenta que pode uma boa opção é viver em
casas separadas. "São duas pessoas que precisam adaptar-se à rotina do
outro. Elas precisam aprender a administrar, juntas, o casamento e as
relações custo-benefício da convivência. Se os benefícios forem maiores,
vale a pena engolir a chateação e adaptar-se. Porém, se os custos da
relação sob um mesmo teto forem muito altos, eles podem optar por morar
separados, sem acabar com a relação. Vida a dois é trabalho de
administrador de empresas, tem que ter um acordo ou não dá para
viver", diz.
Depois dos 50, mudar não é nada fácil. No entanto, estar disposto a fazer
isso já faz uma grande diferença na vida do casal. Vera diz que "pessoas
com mais de 50 anos têm a tendência de serem mais rígidos com algumas
coisas, talvez até pelas limitações do próprio físico. Mas aqueles que se
percebem intolerantes a certas coisas menores devem tomar cuidado para não
ser um velho chato. Uma conversa é sempre boa para resolver essas questões
da convivência. É o que a garotada hoje em dia chama de DR, ou discutir a
relação, que muita gente da nossa geração, mais madura, não sabe fazer.
Homem, então, foge que nem o diabo da cruz. Mas é sempre bom ter uma 'DRzinha'
de vez em quando, para ajustar certos pontos".
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