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Mestre em Dakshina Tantra Yoga fala sobre a sexualidade humana segundo
a filosofia indiana
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Por Alexandre Perlingeiro*
Nos últimos tempos, diversa tem sido a produção de matérias sobre a questão
de gênero. Livros, entrevistas, filmes os mais variados estão buscando
refletir sobre homens e mulheres, o que temos em comum e o que nos difere e
caracteriza. E gostaria de contribuir com mais um ponto-de-vista sobre o
tema.
Em minha opinião, falta acrescentar o aspecto psicológico da questão - que
individualiza a análise. Quando falamos de homens e mulheres, estabelecemos
generalizações que certamente são válidas para o grupo, mas que distorcem a
realidade quando se olha para a pessoa. A descrição do gênero, por ser
genérica, fala de uma mediana. O que gostaria de propor é um olhar
individualizado para cada ponto dessa curva da espécie humana, com suas
variantes idiossincráticas, desvios que não são desvios, e sim, nossa
dinâmica pessoal interior. Por sinal, são essas diferenças de pessoa para
pessoa que tornam tão bela e complexa a vida, impossibilitando uma análise
estatística reducionista.
Ao invés de falarmos em homem e mulher, devemos olhar cada indivíduo como
possuidor de características (físicas e psicológicas) masculinas e
femininas. Ao nível do indivíduo, não cabe dizer que o homem é assim
e a mulher é assado. Com toda certeza nem todos os homens são assim e nem
todas as mulheres são assado. Devemos olhar para aquele homem ou para
aquela mulher e observar em que grau estão suas características masculinas
e femininas (em cada um deles). Este homem, especificamente, em que grau
ele é masculino e em que grau é feminino? E esta mulher, como ela é ao
nível das suas características psicológicas?
Faz-se necessário, portanto, ter clareza dessas características de
personalidade. O que é realmente ser masculino e ser feminino? De antemão,
esclareço que não se trata de questão de sexualidade nem de opção sexual.
Qualquer um, todos nós, independentemente do sexo e da opção sexual, cada
um de nós possui características masculinas e femininas. Jung menciona a
anima para os homens e o animus para as mulheres como sendo essa
contraparte de nossa psique. Todo homem possui seu lado mulher e
vice-versa.
No Tantra, independentemente do sexo, todos temos Idá e Pingalá, os dois
canais de energia que vão regular essas características femininas e
masculinas, respectivamente. É o que chamamos de lateralidade.
Pingalá se refere às características masculinas da personalidade, o lado
direito do corpo e o hemisfério esquerdo do cérebro. São características do
masculino (pingalá exacerbado) o indivíduo, o movimento, a solidão, o
calor, a expansão, alegria, competição, a rotina, a organização, a ordem, o
racional, o movimento, a agitação, o ativo, a força para fora (centrífuga),
o tônus muscular, o crescimento, cálculos matemáticos, atividades
repetitivas e rotineiras, a objetividade, o yang.
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Idá, por sua vez, se refere às características
femininas da personalidade, o lado esquerdo do corpo e o hemisfério direito do
cérebro. São características do feminino (idá exacerbada) o frio, a família,
grupos, coletivo, reunião, contração, tristeza, imobilidade, depressão,
cooperação, o caos, a desorganização, o improviso, a desordem, o emocional, o
repouso, a depressão, o passivo, a força para dentro (centrípeta), a força de
coesão, a flexibilidade muscular, o processo criativo, atividades não
repetitivas, a subjetividade, intuição, práticas oraculares (astrologia, tarot,
búzios, runa, I Ching, etc.), o ying.
Por isso houve as bruxas - e não os bruxos.
Por isso as mulheres são maioria nos grupos de autoconhecimento (incluo aí
minhas alunas). Por possuírem predomínio de características femininas, estão
mais ávidas de se conhecerem.
Por outro lado, tudo o que antes era
considerado como característica unicamente do homem pode ser encontrado também
nas mulheres, o que limita as generalizações. Diz-se que as mulheres são mais
intuitivas, mas e quanto aos homens que são astrólogos, videntes e
pais-de-santo? Diz-se que os homens são mais ativos, e quanto às mulheres que
cada vez mais estão atingindo postos de liderança e comando nas empresas e na
política? Não se trata de dizer que são exceções que confirmam a regra, pois já
não são mais exceção.
Todos nós, em nossa estrutura psíquica,
possuímos características masculinas e femininas mais ou menos exacerbadas,
mais ou menos reprimidas (inconscientes). Quanto mais exacerbada estiver essa
característica, mais reprimida estará a outra. A meta, segundo o Tantrismo, é
equilibrarmos essas duas energias, essas duas forças psicológicas.
Assim sendo, devemos olhar as pessoas não como
homens e mulheres, e sim, como seres humanos com características masculinas e
femininas em maior ou menor grau. Utilizando-se essa abordagem podemos
constatar uma mudança de comportamento nas pessoas: os homens estão ficando
mais femininos e as mulheres mais masculinas. Do ponto de vista do equilíbrio
da personalidade, é ótimo que isto esteja ocorrendo. Estamos mais próximos da
meta, do equilíbrio.
Mais uma vez ressalto que não é uma questão de
sexualidade nem de opção sexual. Não estamos buscando um estado andrógino ou
mesmo hermafrodita. Cada humano deve ter bem clara e desenvolvida sua
sexualidade, sem que isto implique na repressão de sua contraparte. Tudo que
estiver reprimido irá se manifestar de alguma forma a nossa revelia, em um
processo totalmente inconsciente. Neste sentido, podemos conjecturar que
processos repetitivos em nossas vidas (padrões de relacionamento afetivos ou
profissionais, por exemplo) são a nossa contraparte tentando se manifestar, vir
à tona, tornar-se consciente, emergir das profundezas do inconsciente.
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Por isso buscamos o equilíbrio entre masculino e feminino, pois essa já é a
dinâmica das forças em nossa psique.
Podemos, com tudo isso, dizer que a meta da vida, o que nos move, é a busca
não de felicidade, mas de plenitude, quando todas as forças interiores se
manifestam conscientemente. Utopia para a psicologia ocidental, meta
dinâmica, porém alcançável segundo os padrões orientais.
*Alexandre Perlingeiro é mestre em Dakshina Tantra Yoga
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