Homens mais velhos têm maior risco do que
os jovens de conceber um filho com autismo ou esquizofrenia, por causa de
mutações aleatórias mais numerosas que acumulam. Um estudo publicado nesta
quarta (22) na revista "Nature" é o primeiro a quantificar esse
efeito a cada ano. A idade da mãe não teve influência nesses transtornos,
segundo a pesquisa.
Especialistas afirmam que o achado não é
motivo para desistir da paternidade tardia. O risco para um homem com 40 anos
ou mais é de 2% no máximo e há outros fatores biológicos desconhecidos que
podem influenciar o desenvolvimento de autismo e esquizofrenia nos filhos.
O novo estudo dá apoio ao argumento de que
o crescimento dos diagnósticos de autismo nos últimos anos se deve em parte ao
aumento da idade dos pais, fator que poderia responder por até 30% dos casos.
resultado também contraria o entendimento
de que a idade da mãe é o fator mais importante para o desenvolvimento de
transtornos do desenvolvimento em crianças. O risco de anormalidades
cromossômicas, como síndrome de Down, aumenta quando a mãe é mais velha.
Mas quando se fala de problemas
psiquiátricos e de desenvolvimento, o risco genético vem do espermatozoide, não
do óvulo, segundo a pesquisa.
CALCULANDO O RISCO
Trabalhos anteriores já haviam sugerido
essa relação, mas o novo estudo quantifica o risco pela primeira vez,
calculando quanto ele se acumula a cada ano.
Em média, uma criança nascida de um pai de
20 anos tem 25 mutações aleatórias que podem ser atribuídas ao material
genético paterno. A cada ano a mais do pai, há duas mutações extras. Filhos de
homens de 40 anos têm 65 mutações.
O número médio de mutações vindas da mãe
foi de 15, independentemente da idade.
"Esse estudo dá uma das primeiras
evidências sólidas de um real aumento dos números do autismo", afirmou
Fred Volkmar, diretor do Centro de Estudos da Criança da Escola de Medicina de
Yale, não envolvido com a pesquisa.
O trabalho, liderado pela empresa
islandesa deCODE Genetics, analisou material genético do sangue de 78 trios de
pai, mãe e filho. Eles se concentraram em famílias em que pais sem sinais de
doença mental conceberam crianças que desenvolveram autismo ou esquizofrenia.
Essa abordagem permitiu aos cientistas
isolar novas mutações em genes da criança, que não estão presentes nos pais.
A maioria das pessoas tem esse tipo de
mutação, que ocorre de forma espontânea na concepção ou perto dela. Em geral,
as alterações são inofensivas. Mas estudos recentes sugerem que muitas dessas
mudanças podem aumentar muito o risco de autismo e esquizofrenia.
DIFERENÇAS ENTRE PAI E MÃE
As diferenças entre o lado materno e
paterno são esperadas. Os espermatozoides são formados a cada 15 dias, enquanto
que os óvulos são estáveis. As cópias contínuas levam a erros no DNA.
Mesmo assim, quando os pesquisadores
removeram o efeito da idade paterna, não encontraram diferenças no risco
genético entre os que tinham diagnóstico de autismo ou esquizofrenia e um
grupo-controle que não teve.
"É incrível que a idade do pai seja
responsável por todo esse aumento de risco, dada a possibilidade dos fatores
ambientais e a diversidade da população", afirmou Kari Stefansson, líder
do estudo. "Também é surpreendente o pouco efeito da idade da mãe."
Ela afirmou que faz sentido que essas
mutações tenham um papel importante em problemas cerebrais. Ao menos 50% dos
genes ativos têm alguma função no desenvolvimento neural, então alterações
aleatórias têm mais chance de afetar o cérebro do que outros órgãos.
Essas mutações podem responder por 15% a
30% dos casos de autismo e talvez esquizofrenia. Os demais casos seriam
resultado de outras mutações hereditárias e fatores ambientais ainda em estudo.
INCONSISTÊNCIAS E IMPLICAÇÕES
Mas a idade do pai sozinha não explica o
aumento nos casos de autismo. Nos EUA, por exemplo, a taxa de nascimento de
filhos com pais maiores de 40 anos aumentou mais de 30% desde 1980, mas os
diagnósticos de autismo foram multiplicados por dez, chegando a um caso por 88
crianças, segundo os dados mais recentes.
Não há dados mostrando um aumento nos
diagnósticos de esquizofrenia no período.
Se os resultados desse estudo se
confirmarem e forem estendidos a outros problemas mentais, a coleta e o
congelamento de espermatozoides de homens jovens para uso futuro pode se tornar
uma decisão individual vantajosa, segundo Alexey Kondrashov, da Universidade de
Michigan, que assina um editorial sobre o estudo na "Nature".
O professor Evan Eichler, que ensina
ciências do genoma na Universidade de Washington, relativiza. "Alguns
homens podem ver isso e pensar: 'Quer dizer que vou precisar ter todos os meus
filhos enquanto for jovem e bobo?' Claro que não. A maioria dessas mutações não
causa nada e há muitos homens de 50 anos com filhos saudáveis."
Fonte: Bol Sáude
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