Carência é esse sentimento incômodo que
muitas pessoas carregam, percebida por elas como um tipo de buraco, uma fome
constante que chega a doer. Às vezes é fome de afeto, de amor... mas também
pode aparecer como fome de atenção, como o desejo de estar sempre no palco das
relações, sendo valorizado, cuidado, tratado de forma especial.
É uma exigência, muitas vezes
inconsciente, uma expectativa de que os outros supram você de alguma maneira,
desejo esse que costuma se impor à sua capacidade de perceber o outro como um
ser individual que tem direito a escolhas e limites.
Uma pessoa carente sempre exige, mesmo que
de forma disfarçada, que o outro lhe dê o que quer. Não compreende que o outro
tem o direito de dizer não. O outro tem o direito de não querer lhe dar algo. O
outro tem o direito de não gostar de você. (Afinal, quem é amado por “todas” as
pessoas?)
Quando alguém carente se aproxima das
pessoas, essa aproximação quase nunca é descompromissada ou relaxada. Existe
sempre uma certa tensão. Por um lado os carentes polvos querem agir sempre
adequadamente, para garantir que serão aceitos. (Sua liberdade de ser, ser
simplesmente quem são, está limitada pela necessidade de saciar a suposta
fome). Por outro lado, aproximam-se na expectativa de receber. Raramente
aproximam-se para dar algo ao outro.
Como polvos ambulantes, pessoas carentes
estendem na direção da vítima seus enormes tentáculos, tentando trazer em sua
direção o que necessitam. Me dê... me dê... me dê... Essa é a mensagem
inconsciente que acabam transmitindo, mesmo que o discurso seja muito
diferente.
,p>Só que, por ironia do destino, por
mais que tentem disfarçar suas intenções, o outro acaba pressentindo os
tentáculos e na maior parte das vezes se afasta de você. Isso faz com que a pessoa
carente se sinta rejeitada, o alimento lhe foi negado, a fome aumenta e ela
tenta com ainda mais intensidade, numa bola de neve sem fim.
Quando vamos com sede demais ao pote
acabamos derrubando-o, e lá se vai nossa chance de beber seu conteúdo. As pessoas
se afastam quando percebem alguém se aproximar na expectativa de ser suprido,
como um náufrago desesperado em busca de algo a se agarrar. E a pessoa fica lá,
sozinha no meio do oceano. Como uma brincadeira maldosa do destino, a pessoa
acaba afastando cada vez mais a possibilidade de receber o que quer.
Ora, a pessoa carente não faz isso por que
queira ser má, ou lesar o outro. Na verdade ela age baseada na falsa crença de
que não consegue suprir a si mesma. Talvez venha de um lar onde não tenha se
sentido amada, ou querida. Talvez tenha até recebido amor, mas por algum motivo
não tenha conseguido sentir que isso tenha acontecido.
Por trás dessa atitude carente, existe uma
dor e uma ilusão. A dor de uma criança ferida. A ilusão de que não se é nada
mais do que essa criança.
Entenda: hoje você não é mais uma criança
que precisa de alguém para cuidar de você. Aceite a ideia de que hoje você é
grande o suficiente para cuidar de si mesmo!
Se a pessoa carente conseguir perceber
que, não importa o que lhe tenha acontecido, isso é passado. E que hoje existe
dentro dela uma força capaz de curar qualquer ferida. Se conseguir se
identificar com seu lado adulto, parando de esperar que a cura venha de fora,
ou das outras pessoas. Se conseguir pegar sua criança ferida no colo, e dar-lhe
todo o amor, e atenção, e carinho... esse é o caminho para a transformação.
Se em vez de estender seus tentáculos na
direção das pessoas, usar todos aqueles braços para abraçar, proteger e
acariciar a si mesmo... se fizer isso, algo mágico começará a acontecer. O
polvo vai aos poucos se transformando em uma espécie de ninho, seguro e
quentinho... e nesse ninho você conseguirá se lembrar de sua verdadeira
essência, e de lá sairá assumindo sua verdadeira forma, a da mais bela ave, e
seu canto será tão pleno que todas as pessoas sentirão o desejo de se aproximar
e acariciar suas suaves plumas.
De mãos dadas com o adulto que existe em
você, sua fome será saciada por você mesmo. E a sua relação com as pessoas se
transformará. Deixará de ser uma busca de alguém que supra suas necessidades
infantis e passará a refletir o prazer e a alegria de uma troca genuína e
adulta com outro ser humano. E com certeza, essa mudança fará com que as
pessoas parem de se afastar de você e passem a querer estar a seu lado.
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