Falar em voz alta para si mesmo em público
não é sinal de uma boa saúde mental, mas manter um diálogo interno é bastante
normal e muito útil. Na verdade, as conversas internas têm um forte impacto
sobre o bem-estar emocional e a motivação. Tornar-se
consciente do que você está dizendo exatamente para si mesmo, sobre si
mesmo, pode ajudá-lo a entender porque por vezes reage de determinada maneira
com as pessoas e nas situações da sua vida. Pode também ajudá-lo
a controlar o seu humor, repetir sucessos e reorientar as suas ações,
falhas e erros.
AUTO-REALIZAÇÃO
DE PROFECIAS
O diálogo interno
positivo pode contribuir muito para a construção
da sua confiança libertando-o
para usar os seus talentos ao máximo. Por exemplo, se tem medo
de falar em público, use a sua voz interior para se tranquilizar: “Eu
consigo fazer isto. Já fiz isto bem antes, consigo voltar a fazer”.Por trás do nervosismo, seja medo de falar em público, medo
de fracassar, medo de chumbar num exame, fobia social, ou
outro qualquer tipo de medo, podem muito bem estar suportados porpensamentos
negativos, que alimentam esse próprio medo, tais como: “Há 300
pessoas lá fora! Eu nunca vou ser capaz de prender a sua atenção.”
Para o bom ou para o mau, o nosso diálogo interno tem em si o
potencial para tornar-se numa auto-realização de profecias. Ou seja, o seu
discurso orienta as suas ações, influencia as suas crenças, aumentando a
probabilidade de acontecer aquilo que teme, ou pelo contrário, aquilo que
deseja que aconteça. É por isso que é tão importante monitorizar a sua voz
interior.
COERÊNCIA
NO DIÁLOGO INTERNO
Mas não podemos confundir
auto-verbalizações positivas, com afirmações meramente “positivas” desprovidas
de conteúdo, sentido, ou pior ainda, ilusórias. Tal como já referi no artigo: Pense positivo, insista no
pensamento positivo. Por exemplo, se eu fosse dizer a mim
mesmo que eu não sou bom em desenho artístico, o meu diálogo
interno seria negativo, mas não falso. A verdade é que tenho dificuldades
em desenhar. Por outro lado, se eu disser que não consigo desenhar nada,
estaria pensando negativamente, e a fazer uma generalização abusiva, e isto sim
é pejorativo. O que é preciso levar em consideração na construção do seu
diálogo interno é a precisão, lógica, especificidade, que dependa de si,
discurso voltado para a ação e que esteja de acordo com as suas crenças.
Há no entanto momentos, em que você começa a ouvir mensagens
negativas vindas da sua voz interior. Então é hora de corrigi-las usando
algumas das técnicas da terapia cognitiva-comportamental que irei descrever
mais adiante.
Dica: “Cuidado com as suas palavras” ou “o uso das suas
palavras” elas são poderosas e comunicam aquilo que desejamos e como
nos percepcionamos.
ORIENTE
O SEU DIÁLOGO INTERNO DE ACORDO COM O QUE PRETENDE REALIZAR
O seu diálogo interno, ou seja, as palavras que usa para descrever o que está acontecendo com
você, e para informar como se sente acerca dos eventos externos,
determina a qualidade da sua vida emocional. Quando você vê as coisas de
forma positiva e construtiva e procura o melhor em cada situação e em cada
pessoa, você ganha uma tendência a permanecer naturalmente positivo e
otimista. Dado que a nossa qualidade de vida é determinada pela forma
como nos sentimos, pensamos e agimos, momento a momento, uma das metas
mais importantes que eu recomendo é a utilização de técnicas
psicológicas para a promoção do hábito de pensar sobre o que queremos
e afastarmos o pensamento daquilo que não queremos ou que tememos.
A psicologia em
geral, e particularmente a psicologia positiva oferece-nos estratégias, técnicas e
abordagens que facilitam a construção de uma estrutura mental positiva, tal
como descrevi em alguns artigos que expressam a importância de conscientemente
reestruturarmos o pensamento,mudar crenças e saber lidar com os pensamentos e
sentimentos negativos.
Como pode verificar, em todos os artigos a
linha de raciocínio tem por base um factor fundamental, que é a nossa
plasticidade cerebral e a possibilidade que cada um de nós tem em podermos pelaforça de
vontade, motivação, pensamento
positivo e algum
conhecimento técnico, mudarmo-nos a nós mesmos, no sentido da construção de
soluções para os problemas que enfrentamos, quer em nós, quer no mundo
exterior.
Dica: Reflita acerca do tipo de palavras que utiliza para guiar as
suas ações, para gerir as suas emoções, para reorientar os seus
pensamentos.
Que tipo de palavras usa para aumentar a
sua motivação? Está consciente das mensagens que envia para si mesmo e o quanto
influenciam os resultados que obtém?
As palavras são tão poderosas e refletem os nossos
pensamentos. Apresento oito palavras comummente usadas nas
nossas conversas diárias connosco mesmo e o que precisamos monitorizar
e alterar, a fim de promovermos os resultados que desejamos alcançar.
TENTAR
“Eu vou tentar terminar isso …”
“Eu vou tentar passar aí no sábado”
Sempre que ouço alguém dizer isso, ou até mesmo eu, então eu
sei que a pessoa não está convicta do que pretende e a
probabilidade de realizar o que prometeu tentar é tremendamente
reduzida. Tentar é uma palavra insípida que é desprovida de compromisso,
deixando aberto um espaço para desculpas e entraves no caminho daquilo que
supostamente se pretende. Ninguém criou a vida de seus sonhos e
resultados positivos, apenas tentando. Intenção não é ação. Obtém-se
resultados fazendo as coisas acontecerem.
Faça um compromisso mais claro
dizendo “Eu vou ter isso pronto por volta das …”
“Eu estou livre neste momento e eu posso passar por aí …” ou em caso de necessidade: “Eu não
posso prometer nada, mas eu farei o meu melhor para … “.
DESEJO
Se apenas desejar, é como se permanecesse sentado no seu sofá
a sonhar acordado, esperando por ganhar a lotaria ou que a fada madrinha
apareça. Desejar de forma passiva, sem ação ou comportamentos voltados para os
resultados, remove-o da equação de eficácia e transmite-lhe a
mensagem que você tem que confiar em algo externo a si.
Mude a palavra desejo, para “Eu vou
… Eu estou convicto que … Eu estou determinado …. Eu mereço …
Eu estou a reunir recursos para … Eu faço…”.
EU SOU
Tenha muito cuidado como você usa o termo
“Eu sou” para definir quem você é. Você não é hostil, você não é deprimido,
você não é feliz. Todas estas coisas são emoções temporárias que vêm e vão. Se
você se define como sendo desta ou daquela forma relativamente à
sua identidade, pode ter uma tendência para prender-se a isso e
passar a agir de acordo com isso, construindo desculpas como “Eu não
posso fazer isso porque estou deprimido” “Não há nada que eu possa fazer sobre
isso, este é quem eu sou. “ Este tipo de colagem ao sentimentos provocam uma desadequação
em determinadas situações e ambientes.
A melhor maneira de dizer é “Eu
estou a sentir raiva. Eu sinto-me deprimido”. Isso permite que se saiba que é um sentimento temporário, que
não é permanente e que pode facilmente mudar para outro estado.
SE
Quantas vezes você murmura: “Se eu
conseguisse uma promoção então … Se o dinheiro chegasse, então …”
“Se” apresenta sempre o elemento de dúvida. Dúvida e
insegurança não trazem o que você quer, certeza e confiança fazem as coisas
acontecerem. Então, ao invés de “se”, simplesmente transforme essa palavra
para ”quando”
Um
discurso mais virado para a ação e vontade própria seria: “Quando eu conseguir
o emprego novo …. ”
A palavra “quando” emite e faz ressoar sinais de que
você é coerente e comprometido, que acredita que está no caminho
certo para alcançar o que pretende.
DEVERIA
Novamente uma palavra virada para
a promessa, mas igualmente insípida. “Eu
deveria ligar mais vezes para a minha mãe .” “Eu deveria ir ao ginásio esta
noite.” A
palavra deveria está repleta desentimentos
de culpa e
complacência. Você sabe que nunca vai fazer isso e se de alguma forma
disser a si mesmo que reconhece que deveria fazer uma determinada coisa,
que só por isso se irá sentir melhor. Realmente não, isso é uma ilusão, a
única coisa que poderá contribuir para sentir-se melhor, é fazer
exatamente aquilo que verbalizou que deveria fazer. Nem mais, nem menos,
simplesmente fazer.
Substitua a palavra “deveria”, por: “Eu vou
fazer…” ou ” Agora tenho de…”
EU NÃO CONSIGO
Esta é uma daquelas palavras que podem ser polémicas. Todos
nós já ouvimos alguém dizer que não há tal coisa como não consigo. Eu não
pretendo ser tão radical, porque efetivamente por vezes existem coisas que não
somos capazes de fazer. Eu não consigo cantar bem, mas posso cantar. Poder
posso, mas sou terrível. No entanto, com muito esforço e dedicação,
eventualmente, posso conseguir aprender.
Assim que o seu cérebro ouve a
palavra não consigo, ele tira folga. Desliga-se e fica em standby, porque já
não tem que encontrar uma maneira de realizar essa tarefa. Se disser, “Eu
posso tentar”significa que você
abriu um espaço criativo para aprender e explorar novas formas de fazer as
coisas.
Quando um atleta me diz: “Treinador,
eu não consigo”, a
minha resposta é: “Talvez,
mas você pode sempre tentar fazer e depois logo se vê se consegue ou
não. Faça algo, depois corrigimos e melhoramos o que há para melhorar”.
DESESPERADO
Quando realmente queremos algo, há uma tendência para anexar
a palavra desesperado ao que queremos determinantemente, como se essa
palavra incrementasse algum poder no sentido de mais rapidamente
alcançarmos o que queremos.
“Estou
desesperado para que ele me chame.” “Estou desesperado para sair daqui.”
O desespero faz com que se desespere
ainda mais acerca das coisas. Não é uma palavra atraente, não é uma palavra
capacitadora. É uma palavra de urguência sem controlo, acabando por
promover a ansiedade.
Em vez disso diga: “Estou
tão animado que acredito que me chamem esta noite.” “Eu realmente
desejo uma transferência para outro lugar e estou pronto para ir!”
SORTE
Esta é uma palavra que raramente utilizo. Eu
realmente abomino quando oiço coisas do género: como ouço
muitas vezes dizerem-me: “Você teve sorte em ter um atleta nato para o
desporto.”
Eu só quero gritar. Sorte não tem nada a ver com isso. Eu
trabalhei e aproveitei o facto de ter a oportunidade de treinar um atleta com
características favoráveis para a prática do desporto. No entanto,
proposemo-nos a trabalhar para algo que nunca alguém tinha alcançado. Com
esforço, dedicação e muita vontade de obter bons resultados. A sorte não teve
qualquer influência no sucesso.
Se você atribuir o sucesso de outras
pessoas ao fator sorte, estará a fazer duas coisas prejudiciais:
1) Não reconhecer e valorizar todo o trabalho duro
que essas pessoas colocaram na sua vida em prol de alcançar o que
queriam.
Mas o
mais importante:
2) Você está dizendo que não é possível para você. Então você
desiste antes mesmo de começar a criar a vida que quer para si. Você acha que
só vai acontecer o que quer se lhe aparecer o génio da lâmpada
mágica. Isso é uma ilusão. Você pode ter o que quiser, desde que esteja disposto
a fazer o que é preciso para obtê-lo.
Dica: Escolha as suas palavras cuidadosamente e em breve você
vai perceber o quanto potenciam o que você quer ser, fazer e ter.

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