À primeira vista o titulo do artigo
pode parecer um contra-senso. Como é que estarmos tristes e desapontados com
algo ou acerca da vida pode ser positivo? Bem, na verdade nem sempre é, por
isso coloco a ideia em “pode
ser positivo“. Nas
mensagens e ideias que transmito esforço-me sempre por ser razoável,
criterioso, objetivo e ainda assim relativizar o suficiente para não cair em
extremos. Claro que estarmos desapontados e tristes por vezes nada tem de
benéfico, pelo contrário, causa-nos dor, indignação, desmotivação e acima de
tudo um enorme mal-estar, prejudicando-nos a vida. Ou, a tristeza e o
desapontamento podem apenas ser sentimentos que podem não estar fortemente
relacionados com as situações concretas de vida, mas sim com uma análise mais
geral da vida, podendo este sentimento ser temporário e casual, sendo que em
termos funcionais pouco ou nada interfere com o desenrolar da nossa vida.
Podemos ainda retirar enorme conhecimento e experiência dos nossos estados de
tristeza e desapontamento, preparando-nos melhor para o futuro, ou simplesmente
por percebermos que estávamos no caminho errado.
Muitas são as circunstâncias em que pode existir um lado
positivo do desapontamento e tristeza. Se primeiro considerarmos a tristeza em
geral, quando esta é sentida, pode materializar-se num sentimento de vazio,
saudade, perda, desalento, decepção, porque o sistema de avaliação
do nosso cérebro determinou que experimentámos uma perda significativa.
Você pode querer ter alguém ou algo que é difícil de alcançar ou querer
trazer de volta o que foi perdido. A tristeza é uma emoção dolorosa de
desconexão de alguém ou algo que você valoriza ou quer dar valor. Difere
qualitativamente e temporalmente do “luto”, que pode ter um impacto maior sobre
a sua percepção do mundo e é mais duradouro.
SENTIR DESAPONTAMENTO
E TRISTEZA É NATURAL
Para abordarmos o lado positivo do
desapontamento e da tristeza, temos de levar em consideração que é natural
termos sentimentos negativos, que é natural por vezes sentirmos mal-estar,
onde se inclui o sentimento de tristeza. Abordei esta questão no artigo: 007 permissão para ser humano,
onde expliquei que não devemos repudiar a tristeza, medo, sentimentos
negativos ou estados
de humor diminuído. No artigo: O lado oculto da felicidade,
referi que a profunda felicidade,
é dominada por sentimentos felizes, mas também temperada com nostalgia e arrependimento
e que podemos crescer através da adversidade. No artigo: Tristeza, qual o seu propósito?,
explanei a questão que a tristeza tem o seu propósito bem definido.
A saber: O objectivo da tristeza é para o fazer sentir (lembrá-lo e
alertá-lo) que algo foi perdido, que algo aconteceu que não lhe serve ou lhe
provoca mal-estar.
A tristeza ajuda-nos a lembrarmos, em vez de
esquecermos, o que desejámos ou o que desejamos. Promove a reflexão pessoal
após uma perda que é ou foi importante para nós, e redireciona a atenção
para o nosso interior de uma forma que pode promover a resignação e
aceitação. Assim, o sentimento de tristeza tenta ajudá-lo, dando-lhe
uma oportunidade de considerar o impacto da sua perda e a necessidade de rever
os seus objetivos e estratégias para o futuro.
Informação técnica: Um estudo descobriu que a tristeza tende a diminuir a própria
confiança nas primeiras impressões (Schwartz, 1990). Outro estudo concluiu
que a experiência de tristeza leva a pessoa a lutar com a questão existencial
dolorosa de “Quem sou eu?” (Henretty, Levitt & Mathews, 2008).
A TRISTEZA TEM UMA
FUNÇÃO ADAPTATIVA
Se a tristeza pode ajudá-lo a lembrar e
aceitar a realidade, pode ajudá-lo a atingir uma determinada percepção
para realinhar os seus objetivos, alertá-lo para ser cauteloso antes de
tomar decisões e criar uma oportunidade para observar-se a si mesmo, então
talvez o seu propósito de adaptação seja evidente: como
todas as emoções, a tristeza, apesar de tudo o que o possa fazer sentir,
está simplesmente tentando protegê-lo.
O desapontamento ou decepção é uma
maneira profunda em que a tristeza é experienciada. As pessoas
parecem fazer o que podem para evitar reconhecer que estão desapontadas, o que
provoca algumas distorções
de pensamento, conduzindo a um não reconhecimento da verdadeira
decepção. Você pode decepcionar-se com o seu pai, seu filho, seu
cônjuge, um amante, um empregador ou com o trabalho, um evento,
ou consigo mesmo. Em qualquer caso, a decepção é a experiência de tristeza que
envolve expectativas ou esperanças não realizadas. Quando você considera
que poderia ter sido ou conseguido algo, em contraste com o que existe, tem ou
conseguiu no presente, você pode experimentar o desapontamento ou a
decepção.
Você pode experimentar o sentimento
de raiva com o seu pai, cônjuge, parente, empregador, ou
amigo, mas é muito mais fácil sentir isso do que a sua decepção num
relacionamento. O desapontamento ou decepção obriga a admitir que você não
conseguiu o que queria ter, e é realmente mais fácil protestar com raiva (um
sentimento enérgico e virado para a ação) do que é encontrar ou perceber a sua
tristeza acerca do curso dos acontecimentos. De uma forma obstinada,
a raiva irá permitir-lhe continuar idealizando o que poderia ter sido, e você
vai persistir na sua obtenção só porque é o que você precisava naquele momento.
O desapontamento ou decepção aceita a realidade.
DESAPONTAMENTO E
TRISTEZA UMA VIA PARA A FELICIDADE
O desapontamento, tristeza e a felicidade estabelecem um paralelo. É como se
andassem de mãos dadas, existindo uma forte relação e dependência. A vida é uma
sequência de acontecimentos, e certamente que alguns desses acontecimentos
flutuarão entre a tristeza e a felicidade, tendo pelo meio o
desapontamento. Sempre que algo não nos corre bem ou como desejávamos,
temos uma enorme tendência para nos sentirmos desapontados (connosco,
como os outros, com o mundo),
e inevitavelmente sentimentos de tristeza aparecerão. A forma
como conseguirmos lidar com a situação, de
preferência relativizando, aceitando se necessário, partir para a ação e
procurar soluções, tanto mais estaremos dando passos no caminho de voltarmos a
restabelecer o equilíbrio
emocional e resgatar
a felicidade.
Na minha prática enquanto
psicólogo eu percebo que a grande maioria das pessoas evitem o
desapontamento e/ou decepção muito mais do que muitas outras experiências
emocionais. O desapontamento ou a decepção tem como finalidade o
reconhecimento de que você não tem, não conseguiu, ou nunca vai conseguir o que
você queria. Por vezes assemelha-se um pouco ao medo
do fracasso, a pessoa evita fazer algumas coisas para não ter de
enfrentar a derrota ou a falha. No caso do desapontamento ou decepção, a pessoa
evita sentir no sentido de não desistir ou assumir que não conseguiu algo ou
que não aconteceu como desejado. Para se proteger a pessoa evita assumir que
está desapontado.
Não estou a querer dizer que a pessoa deve desistir
dos seus objetivos, nada disso. Estou a passar a informação que por
vezes acontecem situações de vida que temos de aprender a aceitar as coisas
como elas são: a
própria realidade. Ao
aceitarmos a tristeza e o desapontamento, ficamos numa posição de perceber os
motivos de tais sentimentos, e de que maneira podemos utilizá-los para irmos ao
encontro de soluções viáveis que nos façam sentir melhor e possam substituir o
estado atual. O desapontamento e a tristeza, tal como todos os
outros sentimentos, positivos e negativos, não são os acontecimentos em
si, são avaliações e interpretações que fazemos acerca das coisas. Essas
avaliações e interpretações são sentidas em nós (no
nosso corpo) na forma de um
sentimento. Esse sentimento transmite-nos informação, confirmando ou
desconfirmando se o resultado das nossas ações, acontecimentos, ou ações dos
outros nos são favoráveis ou desfavoráveis. No fundo, se nos fazem sentir bem
ou mal.
A saber: O desapontamento e a tristeza, são sentimentos que transmitem
informação útil no sentido de nos fazer chegar a mensagem que algo
não está acontecendo como desejado. Se é algo que nos informa com dados
que nos podem proteger, é positivo. Este lado positivo do desapontamento e da
tristeza, permite-nos forjarmos linhas de pensamento
positivo focado na
solução para voltarmos a sentir-nos bem.
Eventualmente se está numa fase da sua
vida em que abundam sentimentos de tristeza, leia o artigo: 10 Formas de
sentir-se melhor consigo mesmo. Existe sempre a
possibilidade de fazermos algo para contribuirmos para o nosso próprio
bem-estar. É, no entanto necessário perceber que temos capacidade de
conseguirmos influenciar os nossos pensamentos e
consequentemente trabalharmos na criação de sentimentos que desejamos
vir a sentir.

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