A psicose pós-parto, uma doença mental
devastadora, mas pouco compreendida, afeta uma em cada 500 mães e pode resultar
em suicídio ou mesmo em assassinato de bebês.
O período que sucede o parto é o momento
em que as mulheres estão mais propensas a doenças mentais, tais como depressão
ou psicose. Mas há tratamento.
A BBC entrevistou pessoas afetadas por
esta doença que, muitas vezes, passa despercebida porque médicos e enfermeiras
não estão preparados para identificar os sintomas ou porque, por medo do
estigma, é escondida pelas mães.
A maioria das mulheres com a psicose pós-parto
não tem história familiar ou pessoal de doença mental, alertam os
especialistas.
''Estava cheia de vontade de matá-lo''
Jo Lyall era uma dessas mulheres. Depois
que seu segundo filho, Finlay, nasceu, Jo passou por um episódio assustador.
Uma noite, poucos dias depois de deixar o hospital, ela esteve a ponto de
estrangular o bebê:
"Coloquei ele adormecido na cama ao
meu lado, e meu cérebro simplesmente desligou", disse ela. "Era como
se alguém tivesse desligado um interruptor na minha cabeça, e eu olhei para ele
e estava cheia de vontade de matá-lo."
"Eu coloquei minha mão em seu
pescocinho, ainda não forte o suficiente para manter a própria cabeça, e
comecei a apertar. Eu não queria machucá-lo. Sabia que não devia fazer isso,
mas eu queria saber se era capaz".
Jo sabia que algo estava errado, mas tinha
medo de procurar ajuda, por pensar que perderia a guarda dos filhos.
Sem tratamento, ela começou a planejar
como matar a si e seus dois filhos.
"Um dia, pensei em sufocar os garotos
enquanto eles dormiam após o almoço", disse ela.
"Tinha que ter certeza de que os
meninos e o cachorro estariam mortos antes que eu tirasse minha própria vida,
porque eu não podia arriscar que sobrevivessem sem mim", acrescentou.
Jo fez várias tentativas de suicídio, mas
depois de seis meses em um hospital psiquiátrico e quatro anos sob medicação,
está totalmente recuperada.
Ela faz campanha pela maior consciência
dos sintomas de psicose pós-parto, para permitir que médicos e parteiras
ofereçam um melhor tratamento para mulheres doentes.
"Eu sobrevivi, em grande parte,
devido a um médico e a uma quantidade extraordinária de sorte", disse ela.
"Mas as mulheres não deveriam ter que confiar na sorte para sobreviver a
uma condição tratável".
Os especialistas não sabem a causa exata
de psicose pós-parto, embora acredite-se que as grandes mudanças hormonais que
se seguem ao nascimento do bebê tenham um papel importante, juntamente com a
genética.A proporção de jovens mães em risco é grande. E mulheres com
transtorno bipolar têm 50% de chances de se tornar gravemente doentes nas
semanas após o parto.
Shelley Blanchard estava nesta categoria.
Por isso, sua equipe médica não só monitorou sua saúde física enquanto o
nascimento do bebê se aproximava, como também o seu bem-estar psicológico.
Shelley foi apoiada nos estágios finais de
sua gravidez e nos primeiros meses da maternidade por uma equipe que incluía o
Dr. Nick Best, psiquiatra perinatal especializado em cuidar de mulheres
grávidas e jovens mães com problemas de saúde mental.Best fez visitas regulares
a Shelley, assim como a enfermeira psiquiátrica de sua comunidade.
"Uma pessoa pode passar da situação
normal à psicótica, delirante e paranoica no espaço de apenas dois ou três
dias", disse Best.
Shelley também começou um tratamento com
drogas anti-psicóticas na mesma noite que ela deu à luz o bebê Oliver.Mas
algumas semanas depois do nascimento, o humor de Shelley começou a piorar e ela
parou de tomar os medicamentos antipsicóticos porque a deixavam sonolenta.
"Comecei a ter pensamentos
desagradáveis sobre Oliver, tinha desejo de machucá-lo, de jogá-lo pelas
escadas ou soltá-lo de propósito", disse ela.
"Eu estava tão assustada, não queria
machucar meu filho, mas os pensamentos foram ficando mais fortes e mais
frequentes, então tive que buscar ajuda."
Ela contatou a equipe médica e foi
internada em uma unidade especial em Winchester, onde as mães e seus bebês
podem ser mantidos em segurança durante o tratamento.Três meses mais tarde,
Oliver e Shelley estavam em casa novamente, recuperados.
"Se eu não tivesse ido para a
unidade, acho que provavelmente teria acabado por tomar uma overdose, e teria
possivelmente me matado. Eu estava fora de controle", disse Shelley à
época.
"Foi um tempo tão sombrio, mas
consegui aprender um pouco mais sobre mim. Estou realmente me sentindo muito
bem agora, poderia até dizer que estou me sentindo fantástica."
Pai perdeu mulher e filha
Dave Emson sabe como a psicose pós-parto
pode ser grave - quando sua filha Freya tinha apenas três meses de idade, sua
esposa Daksha matou o bebê a facadas e colocou fogo em seu quarto.
Daksha morreu em consequência das
queimaduras quase três semanas mais tarde.
"Cheguei em casa por volta das cinco
e meia ou mais, e quando cheguei à porta da frente senti um cheiro de
queimado", disse Dave ao recordar o dia em que a tragédia aconteceu.
"Normalmente, ao entrar eu dizia
'Daksha, querida, estou em casa' e ela respondia e eu ouvia o balbuciar do
bebê. Mas naquele dia houve um silêncio.
Daksha deixou um bilhete falando de seus
temores de que a filha do casal fosse vítima de "forças das trevas" e
de seu desejo de proteger Freya a todo custo.Daksha tinha estudado psiquiatria
e estava prestes a se tornar consultora quando morreu.
Ela tinha escolhido a carreira em parte
porque sofrera de depressão grave por anos, mas poucas pessoas sabiam de sua
condição, já que ela tinha medo do estigma que traria.
O inquérito sobre sua morte levou a novas
diretrizes no sistema de saúde britânico para o tratamento de funcionários com
doença mental.
Dave agora escreve um livro sobre sua
história - para ajudar outras pessoas em situação semelhante:
"Primeiramente, é uma forma de Daksha
falar através de mim, de falar com pessoas que estão sofrendo, companheiros
trabalhadores da área de saúde mental, pessoas que estão sofrendo com as
condições de saúde mental, para que saibam que não estão sozinhas", disse
ele.
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