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Quando estamos em companhia da
família e dos amigos e mal conseguimos ouvir os nossos pensamentos,
imaginamos que seria bom ficar sozinho. No entanto, quando esse
distanciamento não é voluntário e nos vemos fazendo as refeições do dia sem
companhia, esquecemos o quanto esse momento pode ser muito bom para nós.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), já
existem três milhões de brasileiros com mais de 60 anos de idade morando
sozinhos, um número considerável. Descubra as vantagens dessa fase da sua
vida e comece a ver o lado bom da solidão.
O número de pessoas com mais de 50 anos de idade que moram sozinhas está
aumentando. E a explicação para isso é bem simples. De acordo com a
psicóloga clínica especialista em Gerontologia pela Universidade Aberta à
Terceira Idade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UnATI/UERJ) Avany
Castro, "cada vez mais as pessoas procuram manter sua identidade,
independência e autonomia. Nessa idade os filhos já estão ficando
independentes e muitos estão deixando o 'ninho' para alçarem seus próprios
voos. As relações familiares sofreram fortes alterações e não me assustaria
nem um pouco se alguma estatística confiável me dissesse que as pessoas com
mais de 50 preferem morar sozinhas".
Viver só não significa estar só. O que vale mesmo é socializar, até porque
pessoas que optam pela solidão, morem ou não sozinhas, têm mais riscos de
desenvolver depressão. "Pessoas que moram sozinhas, que não
compartilham suas queixas, suas histórias de vida e não estão inseridas em
algum grupo social têm mais chances de desenvolverem depressão. Por volta
dos 50, as mulheres ficam mais suscetíveis à depressão pois têm de lidar
com perdas tais como do lugar que ocupam na vida dos filhos e do marido, da
beleza, do tempo para realizar projetos de vida. A menopausa também pode
agravar algum quadro depressivo e não é raro mulheres nessa fase desejarem
se isolar, ficarem tristes e chorar sem motivo aparente. Mas é fato que
viver só não significa estar só, nesse caso, acredito ser por opção. Não se
pode esquecer que viver requer adaptação e constantes mudanças",
argumenta Avany.
A manutenção da independência e da identidade daqueles que moram sozinhos
não parece ser suficiente para algumas pessoas. Avany explica que "a
pessoa com mais de 50 pode se questionar acerca de seus valores e do tempo
de que dispõe para modificar o que realizou ou mesmo realizar algum desejo.
A realidade apresenta-se mais dura com relação ao tempo que tem para projetos
e sonhos não realizados. Há uma revisão geral da vida e aí o medo pode ter
relação direta com a questão do negativo. Mas têm aqueles que acham que a
vida começa aos 40, 50 anos e seguem em frente confiantes, aproveitando a
sabedoria que maturidade vai trazendo e que quando se aposentam vão
realizar antigos projetos, vão curtir a vida, sem pressa, saboreando cada
momento, respeitando os limites do corpo".
A liberdade de ter 50, a vida encaminhada e a opção de morar sozinha para
curtir isso sem interferências é privilégio de poucos. "Nessa idade, a
liberdade segue rumo a realização de si mesmo. Na maioria dos casos chegam
netos, crianças que trazem na sua energia uma resignificação da vida.
Morando só tem-se maior oportunidade de despertar a criança interior, seguir
uma fé, realizar trabalho voluntário, despertar a sabedoria do corpo e
experiências vividas, enfim, ser criativo, despertar o leão que há dentro
de si para a transformação da vida e não do vazio. Fórmula mágica não
existe, porém, agindo com leveza e aceitando a passagem do tempo, fica mais
fácil manter o bom humor e ter apoio, seja de familiares ou de amigos em
momentos críticos da vida", conclui a psicóloga.
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