domingo, 2 de setembro de 2012

O limite da ajuda financeira


Especialistas dizem o que fazer para evitar o ônus de ter filhos crescidos mas dependentes



Filho é assim: cresce, estuda, faz faculdade, entra no mercado de trabalho, casa, faz seus próprios filhos e sustenta a nova casa. O discurso é bonito, mas a trajetória nem sempre é reta e os gastos dos pais, muitas vezes, continuam. Há os que não saem de casa, há os que voltam, há os que dão tanto trabalho que dá saudade dos tempos das fraldas. Especialistas alertam que os filhos se tornam independentes dos pais cada vez mais tarde. E justamente a turma que deveria, após o dever cumprido, curtir o bônus de uma vida mais folgada, acaba assumindo o ônus de despesas indesejadas.

Não há dúvidas de que o desejo de amparar um filho é enorme para qualquer pai ou mãe, mas há algumas questões a serem consideradas antes de assinar o cheque ou liberar o cartão de crédito. Toda assistência tem limite, defende o professor de Economia e consultor financeiro Daniel Poit.

Já a psicóloga e orientadora em finanças pessoais Patricia de Rezende ressalta que os pais devem ensinar aos filhos, desde cedo, que trabalho é necessário tanto pela realização pessoal como pelo aspecto financeiro, ou seja, pela independência que o dinheiro proporciona.

Eis o que fazer para evitar que a situação se agrave e que a convivência seja afetada por razões meramente financeiras e não planejadas.
Converse sobre dinheiro com os filhos. Pode ser um assunto delicado e desconfortável para se conversar com os filhos, mas é importante que eles saibam o que se pode ou não bancar. Pôr as cartas na mesa é melhor que esperar por uma possível crise onde será necessário tomar uma decisão abrupta e difícil. “Isto já teria que fazer parte de uma prática familiar”, defende o professor de Economia, consultor financeiro e conselheiro federal Daniel Poit. Caso contrário, é bom sentar e conversar com os filhos o quanto antes para deixá-los a par das condições monetárias da família. “Principalmente se forem desfavoráveis, para que eles adquiram responsabilidade”, ressalta Poit.

Algumas das áreas nas quais os pais costumam querer ajudar os filhos com dinheiro são despesas do dia a dia, mensalidade da faculdade, um carro e viagens de volta para casa para ver a família. O quanto será dito aos filhos sobre a própria situação financeira é uma escolha de cada um, mas é importante conversar e, antes de oferecer ajuda, garantir a própria segurança monetária. Por mais que se ame os filhos e se queira ajudá-los, ninguém quer encher a conta bancária deles enquanto deixa a sua no negativo.


Mi casa es su casa, mas com limites. Se acontecer de os filhos voltarem para a casa dos pais, faz sentido estipular algumas regras. Pode-se pedir ajuda para pagar o aluguel e as compras do mês ou para preparar o jantar e manter o quintal varrido. Apesar de cada família ter uma situação diferente, Poit recomenda que de 30% a 50% da renda do filho seja destinada para ajudar nos custos de manutenção da casa. “Aluguel, condomínio, energia elétrica, gás, água”, exemplifica.

Participar do pagamento de contas tem, segundo o conselheiro, consequências positivas no filho, moral e economicamente. “Faz muito bem na questão da auto-estima e o ajuda a desenvolver a prática de se planejar financeiramente”, diz. Há pais que estimulam um prazo final para os filhos continuarem em casa, como ficar por lá no máximo um ano e depois encontrar amigos para dividir um apartamento. É bom também ter em mente que quanto mais se cobra do aluguel ao filho, mais ele vai demorar para ter condições de sair de casa de uma vez por todas.

 
Encoraje um plano. É muito mais fácil voltar a sustentar um filho crescido quando se sabe que ele tem um plano de vida e está lutando por ele, como fazer um estágio de grande peso no currículo, mas que não seja remunerado; ou em um primeiro emprego com salário ruim, mas com grandes possibilidades de crescimento profissional. Vê-los fazer progredir em uma carreira promissora é um deleite e o objetivo principal. Mas é fundamental saber que o dinheiro dado ao filho está sendo bem empregado. “Não entregue a ajuda como se aquilo fosse um presente”, alerta Poit. “Deixe que ele prove que merece e entenda que o dinheiro é fruto de esforço, de trabalho.”

A ajuda financeira dada a um filho no começo de sua carreira pode ser a ponte que ele precisava para atingir o sucesso. Uma estratégia simples, mas eficaz, é saber onde o filho se vê em um ano, depois em cinco e, por fim, em dez, e como ele espera que os pais participem deste processo. A resposta pode ser “não faço a menor ideia”, mas perguntar pode abrir seus olhos para o mundo e incentivá-lo a criar uma estratégia. A psicóloga e orientadora em finanças pessoais Patricia de Rezende defende que os pais ensinem aos filhos, o mais cedo possível, que o trabalho não é um fardo, mas uma forma de realização pessoal. “O dinheiro e uma conseqüência deste prazer”, diz.

Dinheiro é poder. Quando ainda se tem influência na renda dos filhos, é normal querer estipular como o dinheiro será gasto. Mas é bom tomar cuidado para não usar o dinheiro como uma forma de controlar os filhos crescidos e nem de manipulá-los em suas decisões – fazê-lo pode trazer transtorno e ressentimento para a família. Rezende explica que muitos pais fazem isto até de forma inconsciente. “Eles querem o crescimento financeiro do filho, mas têm medo de serem abandonados, ficarem sozinhos”, ressalta. Ela aponta o envelhecimento como um dos fatores deste medo.

Mas a ajuda financeira não é o único modo de permanecer na vida dos filhos. Há outras formas de participar, como continuar ensinando coisas novas, sair para ir ao cinema, organizar um tradicional almoço de domingo em família. Se acontecer de o filho não aceitar a ajuda financeira, não é preciso levar para o lado pessoal e encarar como uma ofensa. Isto é apenas uma decisão resultante do desejo saudável de viver a própria vida com independência. Não é um insulto, é um motivo para se orgulhar. No entanto, ele deve saber aceitar ou recusar ajuda de acordo com sua situação. “É saudável buscar a independência financeira, mas dentro dos limites da realidade”, afirma a psicóloga.

Se parecer que o tempo de sustentar os filhos está demorando a passar, uma dica para não se estressar é ter em mente que os filhos querem ver o Banco Pai e Mãe fechado tanto quanto seus pais. Provavelmente aos 30 e poucos anos eles terão uma vida financeira estável, talvez combinada com a renda de uma esposa ou um marido. Até lá, qualquer ajuda que puder ser dada durante os 20 e poucos anos pode ajudá-los a prosperar.

http://www.maisde50.com.br/editoria_conteudo2_t3.asp?conteudo_id=8170

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