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Os
órgãos genitais femininos demoraram séculos para perder a função de
exclusividade reprodutiva e serem apenas anexos para a sexualidade masculina.
Até
mesmo a origem da palavra implica em uma função para receber o pênis.
Significando bainha, a vagina era um complemento e não prenunciava uma função
principal na união entre homem e mulher.
Em
várias culturas e religiões, a vagina é apontada de modo a exigir cuidados, em
especial quando a mulher se encontra menstruada, sequer podendo tocar o homem
ou a comida que ele ingerirá...
A
vagina não foi usada historicamente com características positivas, mas
associada apenas ao meio de reprodução e sem adjetivos que revelassem beleza.
A forma
de uma pessoa administrar uma parte do corpo depende de regras externas,
sociais e de compreensão individual.
Em
nossa cultura temos regras diferentes para homens e para mulheres.
Falar
do sexo do homem é uma necessidade para os homens e um orgulho para sentir-se
masculinos. O homem aprende desde criança que referir-se ao próprio pênis é
positivo, adequado, e valorizado para mostrar-se mais masculino, homem!
A mulher aprende outras regras...
Para
ser mulher, desde menina, ela aprende a valorizar sentimentos, de preferência
os mais perenes, a exemplo do amor, e com o formato chamado romântico. Assim, a
atenção da mulher é desviada do genital feminino. Como consequência, falar de
vagina é fora das regras.
Basta
compreendermos que deveríamos nos referir à vulva, que é a genitália externa da
mulher, e não à vagina, que nunca será vista, pois é o tubo interno que
acolherá o pênis na penetração. Aliás, a maioria das pessoas provavelmente não
compreenderá o que é vulva. A palavra vagina passa a ser algo meio mágico que
significa aquilo que não se vê, e do qual pouco se fala, e que muitas mulheres
nunca tocaram, nem devem tocar de acordo com a regra aprendida.
Assim,
sentir vergonha de falar de vagina é uma regra. Não sentir vergonha implica em
não se referir a esta parte do corpo que não é valorizada para perceber-se
mulher. A mulher não precisa falar, conhecer ou tocar a vagina para sentir-se
mulher. Já o homem deve tocar-se falar e viver os genitais masculinos para
sentir-se homem...
Em cada
indivíduo também haverá mecanismos que podem interferir com a apreciação
positiva de uma parte do corpo. Em especial isso acontecerá com os genitais. A
deformação da realidade segue mecanismos cognitivos, de processos de pensamento
que regulam o contato da pessoa com o mundo. Quando uma mulher pensa errado,
poderá observar-se e considerar os genitais feios, errados, inadequados. Sejam
ou não sejam feios ou inadequados, pela distorção ela considerará os genitais
feios e errados!
O
pênis, em vários momentos históricos, tiveram funções de significar poder.
No atual contexto cultural somente pela
subversão das regras é que a vagina significará poder. Uma mulher por usar a
vagina, pelo sexo, para obter e viver poder, controlar o homem.
Outra
forma de exercer o poder pela vagina é que o sexo permite a reprodução, e por
conseguinte, a possibilidade de controlar o homem por um par de décadas.
A vagina
significa poder se não for usar para o próprio prazer.
O genital ao ser usado para o prazer não
precisa ser associado a lutas de poder.
Os
genitais femininos devem ser divididos em duas partes: o reprodutivo e o
sexual. Ovários, trompas e útero somente terão significado reprodutivo. Vagina,
lábios vaginais e clitóris tem significado sexual. A sexualidade implica no uso
do corpo com objetivos de prazer, eróticos. O uso do genital externo e a vagina
na busca de prazer é a possibilidade de estabelecer um relacionamento que
complementa a troca de emoções entre humanos.
No
último século houve a valorização da sexualidade e o decréscimo do valor da
reprodução. Assim os genitais externos tem ganho maior importância para a vida
das mulheres, algo que não era importante até o século XX.
Os
lábios vaginais são as estruturas genitais femininas que mais são apontadas
como algo feio ou inadequado. Claro que o comércio de venda de fantasiosas
soluções através de cirurgias plásticas para modificar o visual dos lábios
vaginais tem crescido. O alvo são as mulheres que se consideram erradas, e
infantilmente colocam a responsabilidade de sua infelicidade em pequenas
estruturas de pele dos genitais. Algo que possivelmente seus parceiros sequer
olharão... mas elas ainda se justificam: “mas eu sei como eles são... e são
feios...” Quando não se gostam, tentarão colocar a responsabilidade de sua
infelicidade em algo físico para não assumirem esta responsabilidade e não se
sentirem culpadas. Ao se sentirem culpadas elas revelariam ser infantis, por
isso o método de tentar melhorar a aparência do genital apenas revela o foco do
pensamento errado.
O prazer sexual não é algo inato, tal qual as pessoas consideram pelo senso
comum. Aliás, pensar assim é um mecanismo infantilizado, demonstrando
incapacidade de lidar com a realidade, optando por entendimentos baseados em
mecanismos utilizados na infância.
Prazer
é algo aprendido. Sem que a mulher compreenda como funciona e pode funcionar,
tenha experienciado como precisa ser estimulada nos genitais para sentir
prazer, ela não terá prazer facilmente...
Pesquisas de há pouco mais de 20 anos, em
São Paulo, referiam que as mulheres precisavam de 2 a 5 anos de atividades
sexuais frequentes para aprender a ter orgasmos... e apenas 30% consegue obter
orgasmos com facilidade...
As mulheres que tiveram experiências de
auto-erotização na adolescência terão mais chances de aprender a ter orgasmos.
As mulheres que não tem orgasmos na vida
adulta mais provavelmente não se masturbaram na adolescência e compõe as que se
queixam de anorgasmia nos consultórios de psicoterapeutas sexuais.
Muitas mulheres chegam à vida adulta sem
terem aprendido a lavarem-se nos genitais, cuidarem-se e isto pode conduzir a
desenvolverem problemas e relegarem e minimizarem estes problemas genitais
piorando o quadro de doenças possíveis.
Saber como é o genital, como funcionam as
estruturas do genital feminino permitirá que a mulher desenvolva-se na qualidade
de ser mulher, de ser fêmea e ser feminina, sem volteios, sem auto enganar-se
ou de buscar enganar o outro.
Apenas vivendo a proposta de viver bem a
vida sexual permitirá que a vagina seja uma parte positiva do corpo, bonita,
adequada.
Se as flores são consideradas bonitas, se as
orquídeas são flores consideradas muito bonitas... com o que o genital feminino deveria ser
comparado?

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