As crises por vezes entram nas
nossas vidas, seja por más decisões nossas ou por situações alheias a
nós, não importa o como, o que é certo é que todos nós
inevitavelmente já passámos, estamos a passar ou passaremos por isso. As
crises podem revestir-se de várias formas e graus de impacto. Revelam-se
preocupantes, experiências não desejadas ou eventos que nos levam a sair
da nossa zona de conforto. Normalmente, as crises resultam em algum
tipo de perda. A própria natureza da crise é a antítese dos nossos principais
valores de certeza e previsibilidade acerca da vida, fazendo com que eles
desaparecem num instante. Gerando-nos indignação, mágoa, confusão, podendo
empurrar-nos para a desesperança, ansiedade, depressão e tantos outros problemas
psicológicosque possam emergir do abalo sentimental provocado pela
crise.
Precisamos desesperadamente tentar
restaurar a ordem nas nossas vidas, e reverter o caos que parece
prevalecer. No entanto, se aprendermos a reformular a forma como vemos a crise,
podemos realmente tirar proveito dela. Não quero transmitir a ideia de que as
crises são bem vindas, ou que não deixam marcas e feridas abertas, levando a
momentos de sofrimento extremo. Quero passar a mensagem de que depois do abalo,
da derrocada e do impacto negativo que sentimos, que existe o potencial
para podermos olhar a crise por outra perspetiva. Em psicologia, a quem consegue superar de forma
positiva as crises de elevado impacto, aplica-se o termo: Crescimento
Pós Traumático. Este
crescimento pós traumático advém de uma mudança sísmica que nos impele à
reestruturação do significado dos acontecimentos gerados pela própria crise.
Este processo é tanto mais facilitado quanto mais noção ganharmos que deveremos
aprender a parar de resistir à alteração indesejada. Quais
são as formas que o crescimento pós-traumático toma?
O crescimento pós traumático tende a
ocorrer em cinco áreas gerais:
§
Às vezes, as pessoas que enfrentam crises
importantes na sua vida desenvolvem um sentimento de que novas
oportunidades surgiram a partir da luta, abrindo possibilidades que não estavam
presentes anteriormente.
§
A segunda área é uma mudança nas relações
com os outros. Algumas pessoas experimentam relações mais estreitas com algumas
pessoas específicas, podendo experimentar um aumento da sensação de conexão com
outros que também sofrem ou sofreram.
§
Uma terceira área de possível mudança é um
aumento da sensação das próprias forças: “se
eu vivi isto, eu posso enfrentar qualquer coisa“.
§
Um quarto aspeto do crescimento
pós-traumático vivido por algumas pessoas é um maior apreço pela vida em geral.
§
A quinta área envolve o domínio espiritual
ou religioso. Alguns indivíduos experimentam um aprofundamento da sua vida
espiritual, no entanto, este aprofundamento pode também envolver uma mudança
significativa no nosso sistema de crenças.
A crise pode ser de natureza financeira,
no relacionamento, saúde ou espiritual. Aquelas crises que emergem
internamente tendem a ser de ordem relacional, psicológica ou emocional.
Normalmente, tentamos evitar esses transtornos da melhor maneira possível. No
entanto, as perturbações são, por vezes impostas em cima de nós pela
natureza ou força das circunstâncias e não originadas por nós. Podemos
sentir-nos como vítimas das circunstâncias, à medida que lutamos para
agarrar a vida como a conhecemos.
Normalmente, a mudança e
desenvolvimento pessoal requer a nossa motivação e
intenção que nos serve como catalisador para a transição desejada. A
crise, por outro lado, elimina a exigência de auto motivação, uma vez que nos
coloca claramente fora da nossa zona familiar (fora
da nossa zona de conforto). A crise, literalmente remove as
fronteiras que nos têm circunscrito. É como que um tornado que
varreu tudo ao seu redor, e quando abrimos os nossos olhos, tudo mudou. O
turbilhão coloca-nos bem além dos limites do conhecido. Perante este tipo de
acontecimento, nós normalmente queremos desesperadamente voltar para
dentro da nossa zona de
conforto. Mas, a crise impede essa opção. Não há como voltar atrás.
Mas, é aí que reside a oportunidade.
Noutros artigos já publicados aqui na
Escola Psicologia, tenho vindo a esclarecer e reforçar a ideia da
resignificação de crenças acerca da vida e relativamente a um
conjunto de atitudes, pensamentos e conceitos que refletem o
lado trabalhoso, mas possível do desenvolvimento e crescimento
pessoal, assim como da felicidade e bem-estar. Pode
aprofundar esta temática na lista de artigos que se segue:
LIBERTE-SE
O crescimento e consequentes níveis
de mudança só tendem a ocorrer quando estamos fora
da nossa zona de conforto. Podemos referir-nos a isso como um
abalo no equilíbrio equilíbrio
emocional, onde a segurança e a previsibilidade já não reinam de
forma suprema. Então podemos olhar a crise como uma bênção disfarçada, embora
não seja desejada.
Steve Jobs podia ter-se sentido derrotado e auto
vitimado, depois de ter sido demitido da Apple há muitos anos. Ele
escolheu o contrário. Após a sua demissão, ele agarrou a crise pelos chifres,
vendo oportunidade onde outros não conseguiram enxergar. Ele passou a liderar
uma pequena empresa de animação e transformou-a numa bem sucedida e
conhecida marca: a Pixar. Quando a Walt Disney comprou a Pixar em 2006, Jobs
tornou-se imediatamente o maior accionista da Disney.
Moral da história: As mudança indesejadas acontecem. Olhe para além disso e
abrace o desconforto.
A crise pode despoletar-se num
momento instantâneo, e é algo que preferimos evitar. Mas, para alcançar uma
auto capacitação requer a capacidade de conseguirmos olhar para lá desse
instante perturbador e tentar visionar que porta é que se pode ter aberto para
nós, ou que atitude
positivaqueremos tomar face ao sucedido. No entanto, em algumas
alturas da nossa vida se essa porta não se abrir, temos de ser nós a abri-la,
temos de ser nós a criar a oportunidade, temos de ser nós a preparar o caminho
que queremos percorrer.
A pessoa cujo cônjuge a deixou por outra pessoa, pode
sentir-se traída e talvez de coração despedaçado. Depois passado algum tempo,
porém, a pessoa pode de fato sentir-se liberta desse relacionamento desajustado
e indigno. Isto é particularmente verdadeiro, se a pessoa evoluir através da
perda para um novo relacionamento mais saudável e proveitoso.
Eu, acredito determinantemente que toda a crise apresenta uma
nova oportunidade. Crise e oportunidade são apenas diferentes aspectos do
processo de crescimento e desenvolvimento. Vamos focar-nos na crise e paralisar
de medo, ou tentar perceber que oportunidades podem surgir ou emergir?
Vamos esclarecer-nos de forma mais profunda sobre o
fenómeno da crise:
CLARIFICANDO A CRISE
As crises tendem a apresentar-se como
circunstâncias agudas ou crónicas. Por exemplo, estamos a atravessar uma
revolução económica que está levando os Estados Unidos e a economia mundial a
perturbações altamente voláteis, com a riqueza e empregos, literalmente, a desaparecer. Na vida da
maioria das pessoas, esta é uma crise externa que está caindo sobre elas,
normalmente, não tendo qualquer influência na sua própria criação. No entanto,
através destas perdas, muitas pessoas têm vindo a refletir sobre os seus
valores e escolhas e estão fazendo ajustes, devido à crise, tentado sair
beneficiados desse fato.
Muitas são as pessoas que perdem tudo, e ficam
temporariamente num estado de pânico. No entanto, muitos são também os que
reagem, e agem fazendo coisas no sentido de restabeleceram a sua situação,
criando trabalhos alternativos e saindo-se muito bem, depois de terem sido
afetados por um terrível abalo na forma de olhar a vida.
Um problema de saúde inesperado ou a morte
de um ente querido pode trazer ansiedade e/ou sentimento de perda. Por mais
doloroso e stressante que estes desafios e perdas possam ser, a oportunidade de
estar no momento e valorizar a vida de uma perspectiva diferente pode
prevalecer.
As crises crónicas são mais pessoais, como
se elas se manifestassem recorrentemente ao longo da vida. Lutas consecutivas
no relacionamento ou batalhas com a auto estima ou depressão tendem a recorrer ao longo da vida.
Estes padrões comportamentais são repetidos nas mini-crises, aguardando uma
resolução mais eficaz. Aprender a olhar para os padrões
comportamentais insatisfatórios, ajudará a desenvolver um ponto de vantagem a
partir do qual você pode quebrar isso, e esforçar-se por implementar uma atitude
positiva que lhe permite chegar a soluções
que lhe sirvam. Por
outras palavras, quais são as histórias recorrentes da sua vida? Qual é a sua
participação nesta história? Que asneiras tem feito e repetido, que o impedem
de chegar onde pretende?
Da mesma forma, dificuldades de
relacionamento tendem a auto perpetuar-se, até que um ponto de inflexão é
atingido. Muitas vezes, a crise de relacionamento lança o casal num novo
território, saem da sua zona de
conforto onde o
crescimento pode finalmente ser alcançado. Suportar a dor durante a crise pode
realmente permitir alguns ganhos. Por exemplo, a infidelidade pode ser
uma experiência horrível, mas também pode abrir a porta para um exame mais
autêntico do casamento e a possibilidade de uma resolução de esperança. O casal
pode tomar consciência de um conjunto de questões sobre as quais nunca se
tinham debruçado, e daí emergir um melhor e maior entendimento, transformando o
relacionamento de uma forma saudável.
ONDE PAIRA A
OPORTUNIDADE
Vamos embrenhar-nos um pouco mais fundo na
oportunidade que prevalece através destas dificuldades. A crise pode ser
definida como um ponto de viragem. Podemos então considerar o seguinte: “Um
ponto de viragem face a quê?”
É numa contemplação não reativa que podemos optar por buscar a oportunidade.
Esta potencialidade torna-se obscura quando estamos atolados na perda daquilo
que nos é familiar em oposição a aventurar-nos no novo. Este ponto de inflexão
é precisamente onde ocorre a transformação.
Vamos olhar para o potencial da mudança,
ou vamos focar-nos naquilo que perdemos? A sua resposta revela o seu relacionamento entre perda e
oportunidade. Em última análise, a questão que importa responder é se
escolhemos paralisar-nos pelo pânico do desconhecido ou procurarmos a
oportunidade que pode emergir da exploração do território novo que se está
revelando para nós? O estado de paralisia representa o aparecimento da ansiedade e do evitamento, a procura da
oportunidade representa o crescimento.
Dica: Liberte o seu apego à perda e abrace o seu relacionamento com
a oportunidade.
A única constante no universo é o fluxo, é a mudança. O que
chamamos de crise é simplesmente a ocorrência da mudança. Nós não somos os
mestres da mudança, se nos desapegarmos da nossa necessidade de controlá-la,
podemos surfar as suas ondas e, muitas vezes transformá-la em oportunidade.
Como
George Harrison cantava, “O nascer do sol não dura toda a manhã.” A mudança
acontece. Prepara-se para isso.

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