O título do artigo, poderia muito bem ser
um título para um dos filmes de James Bond, mas não é! De qualquer forma, não
deixa de ser uma arrojada missão. A missão de a todo o custo, contra tudo e
contra todos, tão somente: Ser humano. Na actualidade esta é quase uma missão
impossível, num dos lados da moeda temos a competitividade, espetativas
elevadas, pressão social, exigências laborais, preocupação
extrema, e do outro lado, os amigos entusiastas, as inúmeras
terapias, os livros de auto-ajuda, os conselheiros, os gurus, os líderes que
nos transmitem as mil e uma formas de como ultrapassar tudo isso e ser-se bem
sucedido (umas das coisas que mais faço aqui no blog). Neste contexto
paradoxal, fomos ganhando a noção que não podemos ter maus momentos, ou
expressar desalento, desmotivação ou desilusão em alguma altura da nossa vida.
Nada podia estar mais longe da verdade.
OPINIÕES E AFIRMAÇÕES DESMEDIDAS
Quando estamos tendo uma dificuldade na
vida, as pessoas podem responder-nos das seguintes formas:
§
Você já leu este livro?
§
Talvez você possa tentar este
suplemento nutricional.
§
Você já tentou orar de joelhos?
§
Não é tão ruim, você deve concentrar-se em
todas as coisas boas na sua vida.
§
Você tem um bom mestre?
§
Já experimentou yoga, ou terapia, ou
uma desintoxicação com suco verde?
§ Porque você não coloca tudo para trás das costas?
Estas declarações podem fazer-nos sentir
como não estando a trabalhar duro o suficiente, que estamos fazendo
algo (ou não estamos fazendo alguma coisa) que está causando a nossa
dificuldade
§
Certamente, não sou o único a abordar
estes temas com títulos que saltam à vista oferecendo “soluções” para alguns
problemas que nos afetam, assim como outros que incentivam ao desenvolvimento
pessoal e à melhoria da motivação. Não quero com isto dizer que estou a
menosprezar os meus próprios artigos, ou as pessoas que tentam na sua melhor
das intenções ajudarem quem expressa algum mal-estar ou que atravessam uma fase
difícil na vida. O que pretendo dizer, é que os problemas devem ser
encarados inicialmente com alguma naturalidade e o devido enquadramento,
levando em consideração a duração, frequência e intensidade do mal-estar.
E, não simplesmente livrar-se dele, como se fosse uma contaminação ou
moralmente desaprovado.
Por esse motivo, e apesar de utilizar
títulos sugestivos que apontam para a positividade perante situações
exigentes e difíceis, e ao mesmo tempo que transmitem esperança na
resolução dos problemas, nunca pretendo passar a mensagem que devemos repudiar
a tristeza, medo,sentimentos
negativos ou estados
de humor diminuído. Pelo contrário, devemos sim saber interpretar o que esses
estados ou sensações nos transmitem e que por vezes temos que inevitavelmente
sentir aquilo que sentimos, sem dramas, miserabilismos ou sentimentos
de culpa e
incapacidade. Simplesmente sentir, para numa fase posterior e adequadamente
mudar de estado, sentimentos ou situação.
ACEITAÇÃO E COMPREENSÃO DA RAZÃO DOS MAUS-MOMENTOS
Nas mensagens e ensinamentos que
transmito, procuro sempre expor os assuntos apresentando uma dupla perspetiva.
Por um lado, esperança, motivação, convicção, positividade, otimismo e ações
face aos objetivos. Por outro lado, que os sentimentos negativos,
mal-estar ou problemas
pessoais são
acontecimentos normais que nos infligem sofrimento, mas que o sofrimento pode
ser encarado de forma razoável e sem que necessariamente seja um
drama ou trauma
Não quero transmitir a ideia de que os problemas que
enfrentamos, não nos fazem sofrer, ou que tenhamos que conviver com isso de
forma passiva. Não é isso que pretendo passar para o leitor. Inevitavelmente em
determinadas situações o sofrimento pode tornar-se muito destruidor e
incapacitante, levando a pessoa a um estado de confusão ou desespero. É nestas
situações que se justifica a ajuda profissional, com o devido enquadramento e
aplicação de terapias ou programa de recuperação estruturado.
No entanto, o problema no fornecimento inequívoco e
apressado de soluções para muitos dos problemas que as pessoas enfrentam,
é que as pessoas podem sentir-se culpadas, inadvertidamente, pelo seu
sofrimento. A mensagem transmitida é: “você não deveria sentir -se assim, agora
vá e faça alguma coisa acerca disso.”
A mensagem mais correta será: Mesmo com esses sentimentos de incapacidade, que não têm de
ser necessariamente destruidores, é possível melhorar.
ENFRENTAR PROBLEMAS NÃO É UM DEFEITO PESSOAL
Então, ao invés de eu escrever outro
artigo sobre o que você pode fazer de diferente, eu pretendo relembrá-lo de que
em determinadas alturas da vida sentir-se mal ou ter pensamentos negativos por
curtos períodos, pode não ter mal nenhum. Isso não significa que você está com
um “defeito” qualquer, ou problemas
psicológicos ou que é
menos feliz ou menos bem sucedido que os outros. Recuos, adversidades,
obstáculos, erros, fracassos, desilusões e desesperança,
certamente em alguma altura da sua vida irá aparecer alguma desta coisas no seu
caminho. Tudo isto não são sinais de que necessariamente você seja fraco,
incapaz ou um fracassado. Esses sinais só querem dizer que você é humano, assim
como todos nós.
Dica: Permita-se ser humano. Permita-se a sentir aquilo que o seu
corpo lhe transmite, para o bom e para o mau. Dias maus, tristeza, mau-humor,
desilusão, frustração, mágoa, raiva, medo, preocupação, quem não sente, quem
não tem? Nem sempre, nem nunca.
Aqui estão três coisas que não vão mudar a sua circunstância
de vida para melhor, mas certamente podem ajudar a não sentir-se mal
e culpado com tudo o que possa estar a enfrentar:
Aceitação: Às vezes a vida é um desafio e na maioria das vezes incerta,
com muitos acontecimentos fora do nosso controlo. Aceitar este facto pode
ajudar a remover o sentimento
de culpa, quando estamos tentando superar o que temos entre
mãos. Relativizar e perceber que em múltiplas circunstâncias estamos à
mercê do universo vasto e misterioso e que a nossa condição humana é
susceptível de sofrer consequências exteriormente impostas.
Auto-Aceitação: Esta é uma forma ligeiramente diferente de aceitação. A
auto-aceitação, significa que o nosso corpo e mente estão preparados para nos
fazer ter sensações e pensamentos negativos, tal como positivos. Ou seja, que
apesar de sentirmos isso, não quer dizer que sejamos isso, ou que iremos ficar
assim eternamente. Sentir-se mal não é o fim do mundo. Confundir-se ou
fundir-se a essas sensações negativas e atribuir-lhes uma conotação mais
negativa do que na realidade têm, é que faz aumentar ainda mais o problema que
se enfrenta e consequentemente entrar numa espiral negativa.
Exprima os seus sentimentos: Não deixe que a ameaça de conselhos indesejados faça você
parar de compartilhar o que está experienciando. Falar com alguém da sua
confiança pode aliviar a sua carga emocional. Cabe a nós discernir se
devemos ou não levar em consideração as soluções que os outros nos oferecem ou
se impropriamente nos estão a fazer sentir mal pelos nossos problemas.
Certamente em determinadas circunstâncias, nós até podemos
ser os mais responsáveis dos maus momentos que estamos a atravessar. No
entanto, evite colocar sal nas suas próprias feridas só porque acha que deve
punir-se ou que no fundo tudo acontece assim porque sente-se inferior.
Se alguém está compartilhando alguma dificuldade com
você, eu encoraje-o a lembrar-se do mesmo. Você pode perguntar se a
pessoa está à procura de conselhos ou se só precisa que a escute. Na
maioria das vezes, as pessoas sabem o que precisam e ficam satisfeitas quando
conseguem perceber isso.
Dica: Aceite esta missão. Permita a você mesmo, ser humano.
http://www.escolapsicologia.com/007-permissao-para-ser-humano/

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