Um estudo da pesquisadora chilena Ana Maria Fernandez, da
Universidade de Santiago do Chile, traz novos dados sobre as diferenças entre
homens e mulheres nas manifestações emocionais do ciúme. A pesquisa foi
apresentada durante a 21. Conferência de Etologia Humana em Viena, na Áustria.
Fernandez usou trechos de
filmes, como "Closer", estrelado por Julia Roberts, Jude Law, Clive
Owen e Natalie Portman, para induzir reações ciumentas em homens e mulheres, e
então controlou parâmetros fisiológicos dos participantes como batimento
cardíaco e taxa de respiração. As cenas usadas para isso foram cuidadosamente
escolhidas, envolvendo momentos de traição conjugal no filme.
"Descobrimos que os
parâmetros fisiológicos de homens estão mais voltados para a agressão --aumento
do batimento cardíaco e taxa de respiração. Já para as mulheres os dados foram
mais complexos, não tão coesos quanto para os homens" disse Fernandez à Folha.
Essa agressividade suscitada em
homens pelas emoções ciumentas teriam a função evolutiva de manutenção do par
romântico por meio da competição com outros homens. A reação feminina ficou
mais semelhante às de dor, tristeza e insatisfação pessoal.
CIUME SEXUAL E EMOCIONAL
Ela também verificou diferenças
entre homens e mulheres que são comuns em diferentes culturas. Homens tendem a
sofrer mais por ciúme sexual, enquanto mulheres sofrem mais por ciúme
emocional.
Já que, por conta da fecundação
interna, as fêmeas de mamíferos têm mais certeza de que os filhos são seus, os
machos sempre ficam na dúvida. Essa diferença fisiológica na fecundação e
gestação da prole influenciou na evolução do tipo de ciúme mais predominante em
homens e no tipo mais predominante em mulheres.
Os homens ancestrais temeram
mais ajudar a criar um filho que não era deles e as mulheres ancestrais temeram
mais perder o vínculo emocional e assim o cuidado paternos em seus filhos.
Essa diferença sexual no tipo
de contexto que suscita mais ciúme só foi descoberta quando da aplicação da
abordagem evolutiva ao estudo da psicologia humana. Isso mostra o poder
heurístico da abordagem, ou seja, o potencial que tem de gerar novas predições
e descobrir novos fenômenos.
Ambos, homens e mulheres,
sentem ciúme sexual e emocional -- só a proporção relativa de cada tipo varia
segundo o sexo. Carlos Gil Birmann, da Universidade Autônoma de Madri,
acrescenta que "a fidelidade sexual é mais importante em mulheres antes
dos 30 anos, mas em homens é importante em todas as idades".
AMOR E CIÚME
Muitos pensam que o amor foi
inventado por poetas românticos e acreditam que nossos ancestrais eram brutos e
insensíveis --a velha imagem do homem das cavernas arrastando a mulher pelo
cabelo. Da mesma forma, há quem ache que o ciúme é uma doença ou algo a ser
eliminado completamente dos relacionamentos.
Ambas as noções estão
equivocadas. Tanto o amor quanto o ciúme são aspectos universais de nossa
psicologia. São tendências comportamentais extremamente importantes
evolutivamente para a reprodução humana, mais especificamente na vinculação e
manutenção da parceria amorosa por tempo suficiente para o cuidado da prole.
O fato de termos herdado tais
propensões de nossos ancestrais não implica que agiremos todos da mesma forma,
que a cultura não tenha importância, que não temos livre-arbítrio ou que é
impossível ter filhos sem amor ou ciúme. Mas sim que, na média dos
relacionamentos românticos, seja aqui, no Chile, na China ou África do Sul,
amor e ciúme estarão contribuindo para que pessoas queiram ficar juntas e
proteger o parceiro de terceiros.
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